Venenos de Deus, Remédios do Diabo - Mia Couto



Este livro foi um presente de aniversário, que recebi a dobrar: tanto os meus coleguinhas de lab como a minha mana tiveram ideia semelhante, ao achar que o mais recente livro de Mia Couto seria prenda para mim. E todos tiveram razão, porque Mia Couto é um autor do qual gosto muito.
Este "Venenos de Deus, Remédios do Diabo" (título muito interessante, por sinal) segue o mesmo estilo do autor moçambicano, relatando-nos cenas da realidade africana. O que eu gosto muito, como já devem ter dado conta.
A história gira à volta de três personagens principais: Sidónio Rosa, médico português que se voluntaria para ir trabalhar para Moçambique, para procurar Deolinda, uma moçambicana que conheceu num congresso em Lisboa e pela qual se apaixonou; e Bartolomeu e Munda Sozinho, pais de Deolinda, através dos quais Sidónio se vai embrenhar na vida de Vila Cacimba e conhecer o mundo que rodeia a sua amada Deolinda, que se encontra fora a realizar um estágio.
Sidónio espera por ela, mas a cada dia que passa a história vai enredando-se cada vez, até chegar ao ponto em que já não se sabe o que é a realidade...
Ao longo do livro, vão aparecendo "tiradas" irresistíveis. Algumas vou partilhar aqui, com vocês.

"Agora, somos como o dedo e o anel: não nos fazemos falta, mas não vivemos longe um do outro."

"Quem tem medo da infelicidade, nunca chega a ser feliz."

"Aos 10 anos todos nos dizem que somos espertos, mas que nos faltam ideias próprias. Aos 20 anos dizem que somos muito espertos, mas que não venhamos com ideias. Aos 30 anos pensamos que ninguém mais tem ideias. Aos 40 achamos que as ideias dos outros são todas nossas. Aos 50 pensamos com suficiente sabedoria para já não ter ideias. Aos 60 ainda temos ideias mas esquecemos do que estávamos a pensar. Aos 70 só pensar já nos faz dormir. Aos 80 só pensamos quando dormimos."

E, para finalizar, com muita sabedoria!!!

"Para a mulher há dois momentos felizes na cama: o primeiro, quando o homem se atira para cima dela, e o segundo, quando o homem sai de cima dela."

Their Heads Are Green and Their Hands Are Blue - Paul Bowles



Mais uma vez, venho falar-vos de uma obra de Paul Bowles. Como já devem ter percebido, é um autor do qual gosto muito.
Este livro, Their heads are green and their hands are blue, foi mais um dos que trouxe comigo aquando da viagem a Paris, e é uma colecção de "reflexões" que Bowles escreveu durante as suas muitas viagens, particularmente na Índia e norte de África.
Bowles escreve sobre a cultura dos sítios que visita, da forma de estar das populações, das suas crenças e tradições. Mas, também, de como ele próprio lida com com estas diferenças, como se adapta às diferentes realidades.
Assim, é um livro muito rico. Por vezes, é um bocadinho enfadonho, mas a maioria das histórias tem aquela capacidade fantástica de nos transportar para dentro delas. E, cada vez mais, desperta em mim a vontade de sair e correr mundo, como se costuma dizer. Ver com os meus próprios olhos e sentir as realidades que aqui são descritas.
É por isso que ler é uma actividade tão enriquecedora. E é por isso que gosto tanto de ler.

Olho Vivo



Que grande ideia essa, a de fazer um remake dessa série fantástica que era "Get Smart" - em português, Olho Vivo.
Ontem lá fomos nós, os três cá de casa, ver o filme a Cascais.Primeiro, Steve Carell é um actor que tenho gostado, nos últimos filmes que fez (aliás, como já referi na crítica ao filme "O amor e a vida real"). Em Olho Vivo também está muito bem, como Maxwell Smart - embora não tenha um ar tão palerma como a personagem original, interpretada por Don Adams. Devo dizer que adorava a série, quando era miúda. Nunca me apercebi é que estava a ver a série com quase 30 anos de atraso!!!
Regressemos ao filme. A história leva-nos, supostamente, a um momento anterior ao que aparecia na série, uma vez que conta como o agente 86 e a agente 99 se conheceram e se tornam num par romântico em luta contra o crime organizado da agência KAOS. Mais, o filme mostra-nos como Maxwell se torna o agente 86, altamente eficaz, apesar de toda a sua azelhice. Portanto, para quem se lembra da série (ou para quem tem idade suficiente para tal!), é um agradável regresso ao passado, cheio de momentos hilariantes. Steve Carell está óptimo, assim como Alan Arkin, no papel de chefe da CONTROL. Já Anne Hathaway é, como já se sabe, um bocadinho insossa, e aqui não é excepção. Ainda assim, é um momento bem passado e que vale a pena.

The Dark Knight



Depois de um pequeno atraso, lá consegui arranjar um tempinho para ir ver o mais recente capítulo da saga de Batman. Já tinha visto o filme anterior, também realizado por Christopher Nolan (o mesmo de Memento e Insomnia), e gostei imenso. Devo confessar que os filmes de Batman nunca me tinham suscitado grande interesse (talvez não tivesse a maturidade suficiente quando os filmes realizados por Tim Burton foram lançados...), mas a forma que Nolan impôs na sua realização agrada-me bastante.
Assim sendo, havia algumas expectativas quanto a este "The Dark Night". Lá pelo laboratório, toda a gente elogiava o filme. E eu lá fui, com a Rita T, ver qual era a minha posição no meio das opiniões!
Gostei. Continua aquele sentimento de uma história mais real, mais próximo do nosso mundo, que tinha começado no filme anterior. Batman está mais humano. Mas, ao mesmo tempo, este filme é extremamente negro, imerso no terror que se apoderou de Gotham City, personalizado no assombroso Joker de Heath Ledger.
Há algumas incongruências na história, mas, apesar disso, há um sentido de globalidade, de unidade, neste filme.
Para mim, o ponto menos positivo do filme é mesmo a duração. Duas horas e meia é um bocadinho demais para o tipo de filme que é. E visto na sessão das 22h é ainda mais cansativo. Por isso, aconselho, vejam à tarde que é melhor. ;)

Viagem Interminável - Partes I, II, III e por aí adiante

Escrevi este pequeno texto no passado domingo, enquanto regressava a Lisboa, vinda das férias em Odeceixe. Aqui fica, para partilhar convosco.

"Os transportes públicos são obsoletos em determinadas situações, quer queiramos, quer não.
Como criticar o dito capitalismo absurdo que nos faz pegar no carro para qualquer deslocação, quando tantos são os casos em que as alternativas são quase inexistentes?
Quer dizer, se calhar, estou a exagerar. Até porque quando me fui informar sobre os horários de autocarros de Odeceixe para Lisboa, fiquei a saber que há três carreiras diárias. Uma de manhã e duas à tarde. Sendo que uma das da tarde é, supostamente, mais rápida. Um expresso para Lisboa!
Embora tenha desconfiado um pouco da duração da viagem (segundo o horário, quatro horas e vinte minutos), nada fazia prever um tamanho suplício.
O autocarro chegou a Odeceixe com, mais coisa, menos coisa, 40 minutos de atraso. Problemas no trânsito, aparentemente. Mas estes minutos de atraso acabariam por perder importância face ao cenário que se avizinhava. Paragens e mais paragens, por tudo o que é vila no meio do sudoeste alentejano. A saber, e até ao momento, em que estamos parados em Grândola para uma pausa de 10 minutos, parámos nas seguintes localidades:

- Zambujeira do Mar (grande confusão, como seria de esperar);
- Cabo Sardão;
- Almograve (com manobras altamente complicadas que incluíram andar dois quarteirões em marcha-atrás, numa rua em que só havia espaço mesmo para o autocarro!);
- Vila Nova de Milfontes;
- Porto Covo;
- Grândola.

Assim posto, até pode nem parecer muito. Mas este percurso, que, normalmente, demoraria cerca de uma hora, vai agora nas 3 horas de duração. O que é qualquer coisa de espectacular! Acho que é preciso encarar como uma viagem turística para conhecer todos estes lugares pitorescos.
Mas agora, que a noite começa a cair, é mais difícil aproveitar o pitoresco da viagem. E sobra apenas o espaço para introspecção, que vai acelerada, que assim consegue a cumplicidade do escuro."

Half of a yellow sun - Chimamanda Ngozi Adichie



Este livro foi-me emprestado pelo Russell, que já me havia falado sobre a história. Fiquei imediatamente interessada, porque este é o protótipo de livro que eu gosto: um romance enquadrado num período histórico-político real e relevante. Porque, assim, aprende-se enquanto se lê.
Falemos então do livro. O título, Half of a yellow sun, refere-se à bandeira da República do Biafra, na qual se podia ver essa metade de um sol amarelo. A história do livro, essa, centra-se no período entre 1967 e 1970, aquando dos massacres na Nigéria, com a consequente declaração de independência por parte da região sul da Nigéria, que dá origem à República do Biafra. Como resposta, a Nigéria inicia uma missão militar contra os rebeldes, com o apoio de (quase) todas a grandes nações mundiais, como é o caso do Reino Unido, Rússia e com o apoio tácito dos EUA. O Biafra irá resistir durante cerca de 2 anos, durante os quais a Nigéria boicota o abastecimento de alimentos à região do Biafra, fazendo com que muitas das mortes ocorridas durante esse período se tenham devido à fome. E mesmo nesta zonas, os raids aéreos continuaram.
Falando mais concretamente no livro, este cruza a história de 3 personagens: Ugwu, um rapaz de 13 anos que é empregado em casa de um professor universitário em Nsukka, de seu nome Odenigbo. Ollana é oriunda de uma família abastada, e tudo abandona para se juntar a Odenigbo, um homem de fortes convicções. Richard é um inglês tímido que se apaixona por Kainene, irmã gémea de Ollana, e que por ela faz tudo por se tornar um nativo. A história segue estas 3 personagens, de uma forma não linear, em termos temporais.
Sobre a história, mais não vou dizer. Aconselho a leitura a todos, se bem que não estou certa de haver uma tradução em português disponível. Contudo, fixem este nome, porque vale realmente a pena.