Fim-de-semana de concertos

O passado fim-de-semana foi um fim-de-semana de concertos. Para matar saudades e repôr energias. Para lembrar que a vida, de vez em quando, pode ser mais do que trabalho.
No sábado, fomos ver J.P. Simões ao Cabaret Maxime. Um dois-em-um, portanto. Por um lado, o prazer que é poder ouvir um dos autores portugueses mais interessantes e, por outro lado, ir ao Maxime, essa lenda da noite lisboeta, de decoração sublimamente kitsch, com todos os brilhinhos e sofás de veludo vermelho... O concerto, esse, era suposto começar às 23h30, mas só se ouviu o rapaz já passava da meia-noite. Muita conversa, como é costume, muito cigarro e vinho tinto. Temos boémio, portanto. O concerto foi seguindo, lento, a acústica não era a melhor, e estar de pé com visibilidade reduzida foi cansando. Houve intervalo "para mudar a água às azeitonas", tendo a segunda parte do concerto trazido repetições, talvez pelo adiantado da hora... Entretanto, sempre nos conseguimos sentar para ver o resto do concerto. Mas o senhor J.P. foi um bocadinho chato, é preciso que se diga. Talvez por ser a despedida do amigo de longa data, Sérgio Costa... não sei.

No domingo, mudámos de cenário e fomos até ao Campo Pequeno (uma estreia) para ver a segundo dia de concertos em Lisboa dos Massive Attack. Para o R. uma primeira vez, para mim o quarto concerto dos miúdos de Bristol. Confesso que a vontade para mais um concerto não era imensa, mas ainda bem que decidimos ir, porque foi muito bom. A primeira parte foi assinada por Martina Topley Bird, de quem não conheço muito, mas gosto do pouco que conheço - e que bem que esteve ao vivo. Fiquei surpreendida pelo aspecto dela, não estava nada à espera de uma diva loura em vestido comprido e saltos altos a cantar música tão rockeira.
Martina voltou para cantar com os rapazes, que trouxeram igualmente o habitué Horace Andy, esse personagem delicioso. A primeira parte do concerto foi dedicada a músicas do novo álbum (ainda sem data de lançamento), que me pareceram bastante bem, com ritmo e força a fazer lembrar tempos antigos. Depois, começaram a desfilar os temas emblemáticos que marcaram os anos 90 (ou deveria dizer 1990...) e toda uma geração - incluindo a minha adolescência, marcada por esse concerto no Sudoeste de 1999.
O espectáculo visual de um concerto de Massive Attack é um espanto. Entre as mensagens, em Português, e as luzes a encadear o público ao ritmo da música, o concerto foi crescendo em intensidade - a lembrar-me porque é que sempre gostei tanto dos Massive Attack. E que saudades tinha de os ouvir.

Fica algo em comum dos dois concertos: uma citação de Henry David Thoreau. Referida por J.P. Simões no sábado, e passado no ecrã do concerto dos Massive Attack no domingo.
"Com um governo que prende alguém injustamente, o lugar do homem justo é na prisão. A prisão é, num estado esclavagista, o único lugar onde um homem livre pode viver com honra."

Caramulo

Há duas semanas atrás, num fim-de-semana passado em Viseu, fomos passear até à Serra do Caramulo. O tempo não estava completamente simpático, mas deu, de qualquer forma, para ficar deslumbrada pela paisagem agreste. A vila do Caramulo tem aquele charme das terras de termas e afins (neste caso, um sanatório), mais ainda acentuado pelo nevoeiro... Subimos ao Caramulinho, ponto mais alto da serra, o que exigiu alguma coragem, porque estava bem fresquinho!
Ficam, então, umas fotografias ilustrativas da beleza do local.







fotografias por Rita Barbosa

As Loucuras de Brooklyn - Paul Auster



"Tendo como pano de fundo as polémicas eleições americanas de 2000, este romance conta-nos a história de Nathan e do seu sobrinho Tom. Ainda que de formas diferentes, são ambos solitários, atormentados... e vizinhos. Tendo acabado a viver no mesmo subúrbio de Brooklyn, juntos vão inesperadamente descobrir uma comunidade que pulsa de vida e lhes oferece uma imprevisível possibilidade de redenção. Sob a égide de Walt Whitman, desfila neste livro toda a dimensão e multiplicidade de Brooklyn: os personagens típicos de bairro, drag queens, intelectuais frustrados, empregadas de café decadentes, a burguesia urbana, tudo isto sob o olhar ternurento que Auster lança da mítica ponte de Brooklyn." (sinopse do livro)

Já lá vai algum tempo desde que li um livro do Paul Auster, um autor que muito aprecio. Este foi-me oferecido pela minha Mãezinha pelos meus 27 anos, mas só agora chegou a sua vez, porque a lista de espera vai longa e lenta...
Pela sinopse, já têm uma ideia da história do livro. A escrita, essa, é a que Auster nos habituou: fluida, coloquial, com o narrador a confundir-se com o autor, o que faz com que, na minha cabeça, todos os livros dele sejam um só!
Ao início, custou-me um bocadinho a arrancar com a leitura, quando Nathan se instala em Brooklyn e a história se começa a desenrolar. Mas quando Tom entra em cena, com os seus desaires pessoais, há toda uma dinâmica que se cria e que acaba por prender o leitor. E, talvez por causa disso, acabei o livro a ler umas 80 páginas de enfiada, numa noite em o que o sono teimava em não aparecer.
Muito bom. Até me deixou com vontade de conhecer Nova Iorque. O que, por si só, já é dizer bastante.

Fica, como amostra, uma frase que me tocou particularmente:

"Todas estas coisas me inundam a cabeça e fazem-me lembrar que é impossível fugir à infelicidade que assola o mundo."

Serra da Arrábida

Por motivos profissionais, tive oportunidade de passar dois dias no Convento da Arrábida, um lugar perdido no meio da serra com o mesmo nome, onde o tempo parece não ter tempo e o pensamento teima em divagar. Muito bonito. Pena o contexto não ter sido o mais apropriado, mas fica a vontade de voltar e ter uma verdadeira visita guiada com o sr. Quirino, guardião do Convento, onde vive sozinho. Um aventureiro.
Fica a informação: é possível marcar visitas, de quinta-feira a domingo, às 15h. É só ligar e marcar. Para mais informações.

Ficam algumas fotografias para abrir o apetite ao passeio.











fotografias por Rita Barbosa

Marialva

O passado fim-de-semana foi de (algum) passeio por terras da Beira Alta. Terras muito bonitas, por sinal, e que quero conhecer melhor e com mais calma.
Para vos aguçar o apetite, aqui ficam algumas fotografias de Marialva, vila histórica onde passámos a noite, num turismo rural chamado Casa das Freiras. Só vos digo que o pequeno-almoço é maravilhoso.
Ficou a vontade de voltar.












fotografias por Rita Barbosa

Os Informadores



O jejum de vários meses (desde Fevereiro, se não estou enganada) deu origem a duas idas ao cinema com apenas um dia de intervalo!
Desta vez, o convite veio da prima Carol, com bilhetes para a ante-estreia ganhos pela prima Joana. Tudo em família, portanto!!!
Primeiro, foi a confusão para conseguir entrar no parque do Alvaláxia... Coisa mais complicada de centro comercial. Nunca lá tinha ido, e não fiquei propriamente fã.
Quanto ao filme... enfim. É quase indescritível. A acção passa-se em Los Angeles, no início da década de 1980. Um ambiente de meninos ricos, famílias disfuncionais e excessos, muito excessos. Baseado na obra de Bret Easton Ellis, parece que o tema lhe é característico. Quanto a mim, não consigo achar grande piada nessa suposta caricatura de costumes e apatia moral.
Demasiado óbvio.

Millenium I - o filme



Embora com algum desfasamento em relação à altura em que vi o filme (há cerca de duas semanas), aqui fica a minha crítica, muito sentida, a essa que é a adaptação cinematográfica do 1º volume de Millenium - Os Homens Que Odeiam As Mulheres.
Primeira impressão: o filme não é muito fiel ao livro.
Segunda impressão: parece-me que houve erros graves de casting - quem é que acha a Erica Berger do filme uma mulher sexy? E o Blomkvist, que raio de quarentão bem parecido é aquele?!? Ou o gosto sueco é definitivamente muito diferente do meu, ou então não sei.
Terceira impressão: o sueco é mesmo complicado como língua. E a Suécia é mesmo bonita como país. Que saudades...

Resumindo e baralhando, como é costume dizer-se, o filme até é um bom filme. É um thriller com acção, bem feito, com uma história sólida e interessante (apesar de tudo). Mas é melhor para quem não leu o livro... Mas não é sempre assim?
Fico, então, à espera do próximo. Para o mistério adensar-se...

Jesusalém - Mia Couto



"Jesusalém é seguramente a mais madura e mais conseguida obra de um escritor no auge das suas capacidades criativas. Aliando uma narrativa a um tempo complexa e aliciante ao seu estilo poético tão pessoal, Mia Couto confirma o lugar cimeiro de que goza nas literaturas de língua portuguesa. A vida é demasiado preciosa para ser esbanjada num mundo desencantado, diz um dos protagonistas deste romance. A prosa mágica do escritor moçambicano ajuda, certamente, a reencantar este nosso mundo."
mensagem da contra-capa

Mais um livro de Mia Couto, e mais uma delícia de leitura. Uma história envolvente, passada nesse desterro de Jesusalém, um lugar que até Deus abandonou... E onde deixou 4 homens, amarrados ao seu destino, que é nunca deixar aquele lugar.

Gostei muito, como sei que qualquer pessoa que aprecie Mia Couto também irá gostar. A sua escrita é, ao mesmo tempo, quente e refrescante. Um verdadeiro gosto.

Notícia do Público - Nobel da Medicina para cientistas que descobriram mecanismo que protege os cromossomas

Deixo-vos com a notícia sobre os laureados de este ano com o Prémio Nobel da Medicina.


"Carol Greider gosta de acordar cedo e, ontem, estava a lavar a roupa e ia preparar o pequeno-almoço dos filhos quando recebeu um telefonema vindo do outro lado do Atlântico, da rádio pública sueca. Foi assim que esta bióloga norte-americana de 48 anos, que trabalha na Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, soube que tinha acabado de ganhar o Prémio Nobel da Medicina.
Greider faz parte do trio que mereceu este ano a preferência do Comité Nobel do Instituto Karolinska, em Estocolmo. Os outros dois laureados são Elizabeth Blackburn, 60 anos, nascida na Austrália e investigadora na Universidade da Califórnia; e Jack Szostak, 56 anos, nascido no Reino Unido e a trabalhar na Universidade de Harvard.
Estes três cientistas, declarou ontem o Comité Nobel, "resolveram um dos grandes problemas da biologia: descobriram como os cromossomas conseguem ser completamente copiados durante as divisões celulares e como são protegidos contra a degradação. (...) Mostraram que a solução reside nas extremidades dos cromossomas - nos telómeros - e na enzima que governa a sua formação, a telomerase."

Capas de atacadores

Os telómeros são pequenas sequências de ADN que se repetem nas ponta dos cromossomas (os aglomerados de material genético que se agrupam em pares, um herdado do pai, outro herdado da mãe, dentro das nossas células). À maneira das capas dos atacadores dos sapatos, impedem que os cromossomas se desfiem quando a célula se divide para dar origem a duas células filhas.
Já nos anos 1930, explica o comité em comunicado, vários cientistas tinham observado a existência destas estruturas. Suspeitava-se que desempenhassem um papel protector dos cromossomas, mas o mecanismo através do qual exerciam essa função iria permanecer misterioso durante mais umas décadas.
Aliás, o problema começou por se adensar antes de ser finalmente resolvido pelos três laureados deste ano. Nos anos 1950, com a descoberta da estrutura da molécula de ADN, quando os geneticistas começaram a perceber como é que os genes são copiados - duplicados - antes da divisão celular, descobriram que existia um pequeno "defeito" no mecanismo de cópia, que fazia com que as pontinhas dos cromossomas não pudessem ser copiadas pelas enzimas encarregadas disso (as polimerases).
Mas isso quereria dizer que os cromossomas, de divisão em divisão, iriam perdendo pequenos troços. Ora, era um facto que isso normalmente não acontece: as células conseguem duplicar o seu material genético apesar deste "problema do fim da replicação", tal como foi baptizado por James Watson (diga-se, já agora, que na mesma altura um cientista russo, Alexei Olovnikov, especulou acertadamente que o envelhecimento celular poderia estar relacionado com esta questão).

Pequena sequência-chave

Seja como for, então como explicar que os cromossomas não se fossem encurtando irremediavelmente, de cada vez que uma célula se dividia, pondo prematuramente termo à vida activa dessa célula?

No início da sua carreira, Elizabeth Blackburn estava a sequenciar o ADN de um organismo unicelular, Tetrahymena, quando descobriu que uma curta sequência, "CCCCAA" (o ADN está escrito com um alfabeto de quatro letras, A, T, G, C, que representam os quatro tipos de moléculas de base que o compõem), aparecia repetida nas extremidades dos cromossomas.

Tratava-se nada mais nada menos do que da sequência característica dos telómeros - mas isso ainda estava por demonstrar.

Encontro com as leveduras

Em 1980, a investigadora apresentou os seus resultados numa conferência e Jack Szostak estava presente. Ele tinha, por seu lado, constatado que, quando introduzia pequenos troços de cromossoma de levedura, ou microcromossomas, dentro de células de levedura, estes eram rapidamente degradados, e ficou muito interessado pelo trabalho da sua colega.
Os dois cientistas tiveram então a genial ideia de juntar esforços e de fazer a seguinte experiência: pegar na sequência CCCCAA proveniente deTetrahymena, isolada por Blackburn, acoplá-la ao microcromossoma de Szostak e introduzir o conjunto nas células de levedura.
"Os resultados", diz o Comité Nobel, "que foram publicados em 1982, eram notáveis: a sequência de ADN dos telómeros protegia os microcromossomas da degradação. E como o ADN do telómero de um organismo (...) protegia os cromossomas de outro organismo, totalmente diferente, a levedura, isso demonstrava a existência de um mecanismo fundamental até lá desconhecido." Essa pequena sequência "está presente na maioria das plantas e dos animais, das amibas aos seres humanos".
A partir daí, com a sua doutoranda Carol Greider, Elizabeth Blackburn começou a investigar se haveria uma enzima, também desconhecida, por trás da formação dos telómeros.
"No dia de Natal de 1984", relata ainda o comunicado, "Greider descobriu sinais de actividade enzimática num extracto celular." Baptizaram-na telomerase, purificaram-na e mostraram que é feita de ARN (uma forma de material genético, diferente do ADN) e de uma proteína.
O ARN contém a sequência CCCCAA, que serve de matriz para a construção de telómeros adicionais, e a proteína realiza o trabalho de construção propriamente dito. "Desta forma, as polimerases [as enzimas que constroem as novas cadeias de ADN durante a divisão celular] tornam-se capazes de copiar a totalidade dos cromossomas, sem perder a extremidade final.""

in Público, por Ana Gerschenfeld

Alemanha

Para aqueles que ainda não sabem, metade (ou quase) do mês de Setembro estive fora do país. Primeiro, um congresso em Berlim, depois férias por lá, Praga e Dresden. Foi a primeira vez que estive na Alemanha e até gostei, embora sem grandes deslumbramentos. É um país bem organizado, onde deve ser agradável viver. Mas há muitas cicatrizes latentes, tanto no espaço físico, como no emocional. Já Praga, foi um regresso, depois de ter lá estado em 2004. Continua exactamente na mesma: uma cidade turística e sem grande vida para além dessa. Muito bonita, mas definitivamente não o meu estilo.
Deixo-vos, então, com pequenos apontamentos de viagens, sob forma fotográfica. Espero comentários!


Dresden


Dresden - Zwinger


Fraukirche, em Dresden - esta catedral foi reconstruída há meia-dúzia de anos atrás, depois de ter sido destruída por um bombardeamento das Forças Aliadas, pouco antes do final da 2ª Guerra Mundial


Praça da Cidade Velha, Praga - vista da Torre do Relógio Astronómico


Praga - cidade vista do parque Petrin


Ponte Karlov, Praga - vista da janela da nossa suite executiva!!!


Viagem de comboio entre Berlim e Praga


Berlim - pormenor da East Side Gallery, parte do muro que continua de pé e foi transformada em galeria de arte ao ar livre


Berlim - junto à Topografia do Terror, uma parte do muro que reminesceu


Berlim - Bebelplatz, praça onde o partido Nazi procedeu à queima de livros que considerava incómodos e contra a sua ideologia


Berlim - Brandenburg Tor


Berlim - local por onde passava o muro, junto à Brandenburg Tor

Fotos por R.B. e R.G.

Público - Um sapo que se pode transformar num prí­ncipe

Público - Um sapo que se pode transformar num prí­ncipe

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"A história tem os ingredientes de um thriller. Um biólogo no seu laboratório de Viena, no pós I Guerra Mundial e em plena subida do nazismo. Uma série de experiências de genética animal, cujos resultados são tão espectaculares como incompreensíveis à luz da ciência da época. Uma acusação de fraude e uma denúncia pública na revista Nature seguida, poucas semanas depois, de um suicídio nas montanhas austríacas com uma arma de fogo, que será interpretado como uma admissão de culpa. E, até hoje, um mistério que perdura: nunca se provou que Paul Kammerer (1880-1926), o protagonista da história, fosse efectivamente o autor da fraude.

O trágico fim de Kammerer e o dramático "caso do sapo-parteiro" (até o nome com que o episódio passou à História seria digno de uma investigação à la Sherlock Holmes) têm alimentado especulações ao longo das décadas. Na generalidade, considerou-se que Kammerer não passava de um cientista desonesto, disposto a cozinhar os seus resultados para provar que a teoria lamarckiana da evolução das espécies estava certa. Mas há contudo quem tenha achado, como o conhecido escritor húngaro Arthur Koestler (1905-1983), que Kammerer, um homem de ideias progressistas, foi vítima de uma cabala dos seus inimigos políticos. Num livro intitulado precisamente O Caso do Sapo-Parteiro, publicado já em 1971, Koestler defende que Kammerer tinha na Universidade de Viena inimigos empenhados em provocar a sua queda e que os seus resultados eram fidedignos. O livro é a tal ponto convincente que o próprio Stephen Jay Gould (1942-2000), grande especialista da biologia da evolução da Universidade de Harvard, escreveu na Science pouco depois da sua publicação, em 1972, que a sua leitura o tinha convencido da inocência de Kammerer. Porém, como fazia notar, não era possível ignorar que, mesmo sendo autênticos, os resultados obtidos não confirmavam de maneira alguma a teoria evolutiva favorita de Kammerer (já vamos ver qual era).

Agora, na última edição do Journal of Experimental Zoology Part B: Molecular and Developmental Evolution, Alexander Vargas, do Departamento de Biologia da Universidade do Chile, tornou a ressuscitar o caso, argumentando que não só os resultados de Kammerer eram fidedignos, como poderão ter sido os primeiros na história a pôr em evidência fenómenos ditos "epigenéticos", que apenas recentemente começaram a ser estudados. Vargas escreve: "Alguns aspectos da descrição das experiências de Kammerer com sapos-parteiros apresentam semelhanças notáveis com mecanismos epigenéticos hoje conhecidos e é muito improvável que tenham saído da imaginação de Kammerer." E mais à frente: "Paul Kammerer não seria portanto uma fraude, mas pelo contrário o verdadeiro descobridor da transmissão genética não-mendeliana, epigenética."

Da terra para a água

A maior parte dos sapos acasalam e põem os seus ovos na água. Mas não o sapo-parteiro (Alytes obstetricians), que prefere acasalar em terra firme - e cujos machos transportam os ovos amarrados à volta das suas patas traseiras até ao estádio de girinos, quando são depositados na água.

Kammerer acreditava que a evolução das espécies opera da forma seguinte: durante a vida, os animais adquirem traços físicos que lhes permitem adaptar-se ao meio ambiente e que a seguir são transmitidos à descendência. Trata-se da teoria dita "lamarckiana" da evolução, da "hereditariedade dos traços adquiridos", que hoje se encontra virtualmente descartada em favor da teoria darwinista. Para perceber a diferença radical entre as duas, um exemplo: enquanto, segundo Darwin, as girafas têm o pescoço comprido porque apenas as que têm os pescoços mais longos se conseguem alimentar de folhas de árvore e sobreviver quando as folhas de plantas rasteiras escasseiam (selecção natural), o ponto de vista lamarckiano (baptizado em honra do biólogo francês do século XVII Jean-Baptiste Lamarck) alega que as girafas tinham inicialmente um pescoço curto, mas que o seu pescoço se alongou para conseguirem comer as folhas mais altas e que o pescoço comprido foi depois transmitido às gerações seguintes.

Kammerer queria demonstrar que um traço adquirido ao longo da vida de um animal podia ser transmitido à descendência desse animal. Para isso, submeteu os seus sapos-parteiros a um ambiente seco, quente e árido, onde havia contudo um lago. E os anfíbios, que até aí tinham tido hábitos reprodutivos terrestres, passaram a viver mais na água, a acasalar e a depositar ali directamente os ovos - e os machos abandonaram o seu papel de "parteiros".

Como descreve em pormenor Vargas, apenas alguns ovos sobreviveram a este novo modo de vida (entre 3 e 5 por cento). Mas esses sobreviventes, para além de terem algumas características morfológicas diferentes dos habituais sapos-parteiros, preferiam acasalar na água mesmo em condições ambientais normais (nas quais os seus antecessores não teriam hesitado em ficar em terra) e também não voltavam a tratar dos ovos. Conclusão de Kammerer: um traço induzido pelo meio ambiente tinha passado para a descendência, mesmo que ela nunca tivesse sido exposta ao meio ambiente indutor.

O modo de vida aquático, nas experiências de Kammerer, perpetuava-se durante pelo menos seis gerações de sapos. Ainda mais espectacular, os animais machos começavam na quarta geração (ou mesmo antes) a apresentar umas protuberâncias calosas escuras nas patas e dedos dianteiros ("almofadas nupciais"), comuns durante a época de acasalamento nas espécies de sapos que acasalam na água (mas inexistentes nos sapos-parteiros), e que permitem segurar a fêmea na água, apesar da sua pele escorregadia. As características dos próprios ovos também iam mudando ao longo das gerações (diminuição da quantidade de gema e aumento da cobertura gelatinosa), bem como o tamanho das brânquias dos girinos resultantes.

Numa derradeira experiência, Kammerer cruzou sapos-parteiros "aquáticos" com sapos-parteiros "terrestres" e constatou que cerca de 75 por cento da prole híbrida eram terrestres e 25 por cento aquáticos, tal como o previam as leis da genética mendeliana (as experiências de Georg Mendel, pai da genética, já eram conhecidas naquela altura, embora há pouco tempo).

Kammerer concluiu que algo tinha mudado nos genes dos sapos, alteração que a seguir tinha entrado na linha germinal e sido transmitido aos descendentes. Os genes tinham sido mutados sob a pressão do meio ambiente e a mutação era hereditária.

Uma gota de tinta-da-china

A comunidade internacional dos geneticistas mendelianos não recebeu bem os resultados e estalou a controvérsia. Corria o ano de 1919. Uma proeminente figura de então, William Bateson, questionou mesmo a honestidade de Kammerer, em particular no que respeitava ao aparecimento das almofadas nupciais. "Em resposta", escreve ainda Vargas, "Kammerer iniciou uma tournée, mostrando especímenes dos seus 'sapos aquáticos' a todos os seus colegas que os quisessem examinar." Só que, na sequência dos estragos da guerra, só tinha subsistido um único exemplo que apresentava as ditas calosidades pigmentadas. Mas quando o especialista de anfíbios G. K. Noble, do Museu de História Natural de Nova Iorque, dissecou e analisou quimicamente a amostra de Kammerer, descobriu que... alguém tinha injectado tinta-da-china nas extremidades do animal, para tornar as calosidades mais escuras. Foi Noble que, a 7 de Agosto de 1926, revelou na Nature as suas conclusões, acusando implicitamente Kammerer de fraude. A 23 de Setembro, Kammerer punha fim à vida. A autoria da manipulação nunca foi descoberta.

Quase um século mais tarde, Vargas usa os conhecimentos científicos actuais para fazer uma nova análise do que poderá ter acontecido. Não do ponto de vista da fraude - a presença de tinta-da-china não está em causa - mas do envolvimento de Kammerer. Baseando-se no livro publicado por Kammerer em 1924, intitulado A Hereditariedade dos Traços Adquiridos, o cientista chileno constrói uma nova interpretação dos resultados das experiências com os sapos-parteiros.

Kammerer acreditava que as alterações genéticas por trás das alterações verificadas nos seus sapos tinham passado para as células germinais dos animais e daí para a sua prole. Mas, hoje em dia, sabe-se que existe, para além da genética clássica, uma genética não mendeliana, em que certos mecanismos regulam a actividade (ou expressão) dos genes sem modificar a sequência subjacente da molécula de ADN. E sabe-se que estes mecanismos, ditos "epigenéticos", podem ser transmitidos para a descendência (embora ninguém saiba se têm relevância para a evolução das espécies).

Refazer as experiências

Primeiro, a questão dos calos nupciais: na realidade eles existem, embora raramente, nos sapos-parteiros - e o mais provável, argumenta Vargas, é que alguns dos sapos das experiências de Kammerer tenham sido deste tipo. Ora, como a pressão selectiva da experiência beneficiava, na água, aqueles que possuíam essa característica, na realidade Kammerer não fez senão seleccionar ao longo de várias gerações, tal como um criador de touros selecciona os melhores reprodutores, os machos que tinham calos nupciais. Os calos não nasceram do nada: existiam num estado latente e o seu aparecimento foi induzido pelas condições experimentais, num exemplo clássico de selecção genética.

A seguir, Vargas cita vários exemplos de mecanismos epigenéticos patentes nos resultados de Kammerer e, entre eles, o facto de um gene poder estar activo, se for herdado, por exemplo, do pai, mas inactivo, se vier da mãe, porque as células sexuais masculinas e femininas não se desenvolvem em meios químicos idênticos e isso pode afectar a expressão de certos genes nestas células e produzir diferenças físicas nos descendentes, conforme herdem um dado traço do pai ou da mãe. Esta dependência do sexo do progenitor tinha, aliás, sido notada pelo próprio Kammerer nos seus resultados, que a considerava uma "complicação" incompreensível. Como explica em termos leigos um artigo dedicado ao tema na última edição da Science, "nas experiências de Kammerer, se o pai fosse um sapo 'aquático', 100 por cento da geração seguinte e 75 por cento da outra a seguir também o eram". Mas se o pai tivesse hábitos terrestres, apenas 25 por cento da segunda geração demonstrava hábitos aquáticos. "Isto apenas complicava o cenário para Kammerer", escreve Vargas, "fazendo crescer as suspeitas em torno dos seus dados (...), ao mesmo tempo não contribuindo em nada para corroborar a sua visão lamarckiana."

Para Vargas, há apenas uma maneira de resolver definitivamente o caso do sapo-parteiro. Refazer as experiências de Kammerer e ver se os resultados se confirmam - o que Vargas não duvida irá acontecer. Será que alguém vai aceitar o desafio??"

Por Ana Gerschenfeld

Imagens das férias

Aqui ficam algumas fotografias da minha (curta) semana de férias.


Vila Nova de Milfontes


Vila Nova de Milfontes


Malhadais - Odeceixe


Odeceixe - rua onde fiquei instalada


Azenha do Mar


Os omnipresentes gatos...


Praia de Odeceixe


Café Machado Viana - Odeceixe


Odeceixe

Para mais tarde recordar...

Fotografias por Rita Barbosa

Benfica!!!

O dia 31 de Agosto foi um dia diferente e especial, porque fui, pela primeira vez, assistir a um jogo de futebol ao vivo, num grande estádio. Neste caso, ao novo Estádio da Luz, o qual nunca havia visitado, apesar de benfiquista de viva alma...
O meu paizinho querido levou-me a ver o clube do seu coração por ocasião da 3ª jornada da Liga (se não me engano), em jogo contra o Vitória de Setúbal. A localização dos lugares, apesar de não ser completamente central, era óptima, super pertinho do campo, deu perfeitamente para distinguir todos os jogadores. E, depois, como ficámos junto à baliza para a qual o Benfica esteve a atacar durante a 1ª parte, tivemos oportunidade de assistir a 5 golos mesmo em frente aos nossos olhos! Um verdadeiro espectáculo! E ver um estádio, bastante composto de assistência (40.915 espectadores, segundo foi anunciado durante o jogo), ao rubro com cada um dos golos, foi uma sensação digna de ser experienciada.
O jogo, esse, foi memorável, com o Benfica a impor uma goleada como há muito não se via: 8-1, num jogo cheio de emoções.
Para a posteridade, ficam algumas fotografias, e o desejo de voltar.





Millenium - o final




A trilogia chegou ao fim. Agora é de vez, não haverá mais aventuras com Lisbeth Salander e Mikael Blomkvist... É um momento triste, porque foram dos livros que mais prazer me deram ler nos últimos tempos. E quando digo últimos, refiro-me a um período de tempo bastante alargado!
Como já referi aqui, foram os primeiros policiais que li. Tenho que me dedicar mais ao género, acho que gosto. :)
Esta terceira aventura, talvez porque a ideia do autor era continuar, não tem um sabor a ponto final. Pelo contrário, acaba, nitidamente, em aberto. Embora o fim proposto, mesmo que para "capítulo", não me tenha agradado particularmente. Mas já estava à espera, pelo andar da carruagem...
Mais uma vez, aconselho vivamente a todos aqueles que gostam de ficar agarrados a um livro - este é para passar umas noites acordado!!! Por isso, façam bom proveito. Mesmo que fiquem as saudades...

At last...

Finalmente, as férias. Praia e descanso. Sono e pôr a leitura em dia. Num cenário bucólico. Como mais me apraz.


Martin Amis - Yellow Dog



Após um longo "namoro", de vários meses, acabei de ler este "Yellow Dog", que me foi emprestado pelo Russell.
Foi a minha primeira incursão a Martin Amis, autor inglês de apreciado renome. A sua escrita não é muito fácil, bastante carregada de jogos literários com recurso à fonética e outros "truques", que tornam a leitura deste senhor bastante complicada quando se lê a obra na sua língua original.
A narrativa desta obra cruza várias personagens, começando com uma ocorrência na vida de Xan Meo - um ataque que irá mudar o seu dia-a-dia.
À medida que o livro avança, apercebemo-nos que as histórias estão entrecruzadas, que há um fio condutor - mas tal vai sendo desvendado muito ao de leve, com extrema subtileza.
Embora não me tenha tornado fã deste autor, acho que tal se deve ao facto da dificuldade da leitura. Fica, então, um conselho: é mesmo melhor ler em português, mesmo que, assim, se perca alguma da beleza da sua escrita.

Cinfães é o concelho com pior qualidade de vida em Portugal

Surpresa das surpresas, esta notícia passou ontem nos noticiários da SIC. Deixo-vos com a notícia e com o link para o respectivo vídeo.
E, já agora, com a minha opinião: é preciso perceber muito bem quais foram os indicadores de qualidade de vida utilizados. Porque eu, como Cinfanense de gema, não acho nada que Cinfães seja um mau sítio para se viver.


"Cinfães é o concelho com pior qualidade de vida em Portugal Continental. É a conclusão de um estudo do Observatório para o Desenvolvimento Económico e Social da Universidade da Beira Interior.

Segundo Pires Manso, professor catedrático da UBI e coordenador do trabalho no Observatório para o Desenvolvimento Económico e Social da UBI, "de uma forma geral não há grandes mudanças e o índice continua a mostrar um país a duas velocidades".

"Os municípios do litoral destacam-se nos 20 primeiros e nos últimos lugares predominam os municípios do interior norte e alentejano", sublinhou.

Lisboa e Albufeira mantêm a melhor qualidade de vida, seguidos de Oeiras.

"Este índice reflecte a realidade do país", recorrendo a meia centena de variáveis de 15 áreas como equipamentos (de comunicação, culturais ou outros), educação, ambiente ou dinamismo económico, entre outros.

O trabalho conclui que "existem apenas poucas áreas em que a situação se apresenta positiva. Apesar da existência de algumas em que a situação é neutra, a maioria revela uma situação deficitária de grande parte dos concelhos portugueses".

"Em termos gerais, não se pode considerar animador o cenário do país em termos de desenvolvimento económico e social ou de qualidade de vida no sentido mais amplo", destaca.

A edição de 2009 do índice foi feita com base no anuário de 2006 do Instituto Nacional de Estatística, "o mais recente disponível", enquanto a edição divulgada no último ano tinha por base o anuário de 2004.

Entre os vinte primeiros lugares há cinco novos municípios: Alcochete, Alpiarça, Constância, Crato e Évora. Caem Amadora, Marinha Grande, Sintra, Vila Franca de Xira e Vila Real de Santo António.

No fundo da tabela, houve maiores movimentações. Dos 20 últimos do estudo anterior, só quatro se mantêm no grupo em 2009: Alcoutim, Cinfães, Resende e Vinhais.

Houve ainda cerca de uma dezena de oscilações que rondam as cem posições, para as quais Pires Manso não tem explicação. "Subir oito ou 10 lugares parece-me normal, mas há outras em que, se pensarmos um pouco, não vemos razões para serem tão grandes".

"Não consigo encontrar explicação. Nós trabalhamos com os dados do INE. Pode às vezes ter havido o preenchimento de inquéritos com menos seriedade", refere.

Seja como for segundo Pires Manso, "nunca se fez um estudo em Portugal com tanta variável como nós utilizamos neste. É um trabalho fiável", garante.

Questionado pela Agência Lusa sobre a oportunidade da actualização do índice com eleições autárquicas à porta, Pires Manso acredita que "é o momento ideal. A minha expectativa é que isto suscite o debate".

"Estamos a dar um contributo para que o país se conheça melhor e as pessoas possam debater", concluiu.

Segundo o investigador, o estudo não abrange a Madeira e Açores, "porque não estão publicados os mesmos dados que existem para todos os outros municípios".

Lusa"

sic.aeiou.pt/online/video/informacao/noticias-pais/2009/7/qualidade-de-vida-em-portugal.htm

As teses das miúdas

O dia 6 de Julho de 2009 foi um dia muito importante no laboratório. Esperávamos este dia há já algum tempo, com ansiedade. E ele chegou. O dia em que as miúdas, a Rita C e a Catarina, entregaram as suas teses de doutoramento.
Foi vê-las a correr pelos corredores do hospital (de Santa Maria), cheias de pressa, para não chegarem atrasadas! Com os braços carregados, lá foram, abrindo caminho por entre a multidão!





E, assim, começa a fechar-se um ciclo. Um ciclo cheio de incertezas, de altos e baixos. Agora, uma nova etapa irá surgir nas suas vidas. Uma etapa para a qual apenas desejo toda a felicidade e sucesso.

Parabéns, miúdas.

Questão...

"Não sei se a vida é pouco ou de mais para mim."

Álvaro de Campos
in Passagem das Horas

Um grande dia

Após um longo dia, feito de espera e emoções, nasceu a minha bela sobrinha. Foram 9 meses a seguir esta gravidez, a acompanhar as diferentes etapas, o seu crescimento e desenvolvimento, que culminaram no seu nascimento, às 19h54 do dia 9 de Junho.
Agora, é todo um novo mundo para descobrir.

Bem-vinda.