Grizzly Bear: o monstro saiu à rua num dia assim



Chegou o tão desejado dia. Grizzly Bear pela primeira vez em Portugal, concertos a 26 de Maio em Lisboa, 27 no Porto.
A banda de Brooklyn subiu ao palco pouco depois das 22h. Antes havia estado por lá Cibelle, bastante desinspirada. Mas o que importa isso, se o que se passou depois fez esquecer tudo o que ficou para trás?...
O concerto começou com Southern Point, primeira música de Veckatimest, o terceiro e mais recente álbum da banda. Logo aí deu para perceber que seria um concerto poderoso, com os baixos muito pujantes, a fazer saltitar o coração (e a comichar nos ouvidos!). E daí partiu, passando por praticamente todas as músicas do álbum, ainda com incursões a Yellow House, nomeadamente com o fantástico Knife, que fez vibrar a plateia. As alternâncias vocais entre Edward Droste e Daniel Rossen trazem uma riqueza fenomenal à música, tal como os diversos instrumentos a que a banda recorre.
É difícil falar sobre este concerto, porque há demasiado sentimento. Gosto muito das músicas deles, é uma daquelas bandas que foi "entrando" aos poucos, e entranhou-se de uma forma indescritível. Em relação ao concerto, houve um momento que gostei particularmente, que foi quando tocaram Ready, Able, uma das minhas músicas favoritas. O encore também foi muito interessante, com uma versão acústica de All we ask a três vozes. Uma verdadeira maravilha. Fica o desejo de que regressem, sempre. Mas não a festivais, porque a música pede mais, e pede intimidade.

Soul Kitchen



Isto de ter um cartão que permite ir ao cinema as vezes que eu quiser é fixe. :D
Depois da estreia, o segundo filme que vi com o meu novo cartão foi este "Soul Kitchen", do realizador alemão de origem turca Fatih Akin.
Soul Kitchen é o restaurante do jovem Zinos, localizado num antigo barracão de uma zona pouco procurada de Hamburgo. A namorada de Zinos, Nadine, vai partir para a China e insiste que ele a acompanhe, mas Zinos tem o restaurante que não quer deixar. No entanto, vai começar a "fazer contas à vida" quando perceber que a sua relação está periclitante e que o próprio restaurante não sai da cepa torta. Curiosamente, é aí que se dá a reviravolta, com Soul Kitchen a tornar-se um local de referência da cena cultural da cidade! Pelo meio, forças "superiores" vão tentar estragar o negócio ao rapaz, o que vai dando ao filme muito ritmo.
Assim, este filme fala-nos da relação que se tem com os sítios que representam o nosso lar, e com as pessoas que constroem esses sítios. Amizade, família, amor e lealdade são tudo assuntos que percorrem o filme, com algum humor e boa disposição.
Não sendo um filme brilhante, é um filme agradável e despretensioso (bem bom!). Algo previsível, no entanto, tanto que até eu consegui perceber como a história se iria desenrolar! Um ponto muito positivo vai para banda sonora, muito na onda de blues - e não, não inclui a música dos The Doors, homónima do título. Só espero que seja lançada por cá.

Estômago - Uma história nada infantil sobre poder, sexo e gastronomia



Um desejo que vinha desde o tempo da faculdade cumpriu-se, finalmente. E sou, neste momento, uma orgulhosa detentora de um Medeia Card. É certo que houve tempos em que compensou mais. Mas espero que sirva, pelo menos, como desculpa para ir mais ao cinema.
O primeiro filme que fui ver com o meu novo cartão foi este "Estômago - Uma história nada infantil sobre poder, sexo e gastronomia", filme brasileiro de Marcos Jorge. O filme conta a história de Raimundo Nonato e passa-se em dois tempos diferentes: o presente, numa prisão brasileira imunda onde Nonato partilha uma cela, e o passado, em que acompanhamos o percurso do jovem, vindo do interior para a grande cidade à procura de singrar na vida.
Em ambos os momentos, vemos como a culinária é um ponto fulcral na vida de Nonato, e como tudo na sua vida se relaciona(rá) com ela...
Este "Estômago" é um filme muito interessante e bem conseguido. O papel principal, interpretado por João Miguel, é de uma candura quase angelical... E mais não posso dizer, se não perde toda a piada! Assim, apenas posso garantir que o filme é muito bom e divertido.
Fico a pensar: porque é que nós, portugueses, não sabemos fazer cinema assim, despretensioso?...

O Segredo de seus Olhos



Mais uma ante-estreia, desta vez com o alto patrocínio, não do excelentíssimo Presidente da República, mas da prima Joana. Depois de um dia extenuante no laboratório, fui em contra-relógio para o El Corte Inglès para assistir a este "O segredo dos seus olhos", filme argentino de Juan José Campanella que ganhou o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro no ano passado.
A história do filme alterna entre 1999, em que Benjamin Esposito, oficial reformado do Tribunal, aproveita a seu tempo livre a escrever um livro que se baseia no mais brutal caso em que trabalhou durante a sua carreira, e 1974, o ano em que o dito caso aconteceu. Benjamin procura, então, escrever sobre o violento assassínio da jovem Liliana Colotto. Apesar da polícia arranjar dois suspeitos como bode-expiatório, Benjamin e Sandoval, seu assistente, vão descobrir e perseguir o verdadeiro assassino. No entanto, a história do caso vai misturar-se com o rumo da vida do próprio Benjamin, tanto em 1974, como 25 anos depois.
O filme tem uma atmosfera de suspense, como é perceptível pela história que acabo de descrever. É um filme interessante e cativante, se bem que talvez um pouco longo. Ainda assim, é um filme competente. No entanto, e pensando que entre os outros nomeados ao Óscar estavam, por exemplo, Um Profeta, parece um pouco exagerada tal distinção.
De qualquer forma, vale com certeza uma ida ao cinema. Até porque, como dizem no filme, não se pode dissimular as nossas paixões nos nossos actos, se é que me faço entender.

Gil Scott-Heron, o gigante



O dia 17 de Maio trouxe consigo, até Lisboa, essa lenda que dá pelo nome de Gil Scott-Heron. Primeira passagem do músico de 61 anos por Portugal, incluiu dois concertos: um na Casa da Música, no Porto, e outro na Aula Magna, em Lisboa (ao qual eu assisti).
Embora não conheça extensivamente a obra do senhor, a expectativa era muito. Com mais de 40 anos de actividade na área musical, Scott-Heron é também uma referência do activismo negro nos Estados Unidos da América. O concerto começou com um "diálogo" com o público, nomeadamente sobre os constrangimentos impostos pelo vulcão islandês (yah-yah-oh, segundo ele), e também com referências ao seu passado (como o facto de ter estado desaparecido, que é como quem diz, na prisão). Depois, a luz baixou de intensidade e foi como se tivesse sido transportada para uma outra época. Num passe de magia (bem ao jeito deste blog), estava no século XIX, na altura do nascimento do blues e do jazz, algures nas margens do Mississipi...
A primeira parte do concerto contou apenas com Scott-Heron sentado ao teclado, a tocar músicas mais intimistas (não me perguntem pelo alinhamento!). Depois, entrou a banda: um percussionista, uma teclista e um senhor que tocava harmónica; e o ritmo mudou. Mas a magia continuou.
Acho que não tenho palavras para descrever este concerto. Foi tão bonito que só me apeteceu fechar os olhos e absorver toda aquela música. É um daqueles calores que enche a alma (mais ou menos como a Marta disse). Por isso, é preciso ter lá estado para perceber do que estou a falar.
Houve um momento em que fiquei triste, porque os músicos saíram ao fim de uma hora em palco. Felizmente, voltaram para dois encores que deram quase outro tanto à duração do concerto.
Obrigada, Gil.

A chachada do Bernardo, seguido do anjo de 60 anos



Para acabar a semana multicultural, houve concerto de Vashti Bunyan. Cantora inglesa nascida a meio dos anos 1940, teve uma curta carreira musical no final dos anos 60, tendo desaparecido da cena musical depois do lançamento do seu primeiro álbum, em 1970. Reapareceu nos anos 2000, tendo editado o segundo álbum em 2005. Embora pareça que até conheço bem a senhora, não é bem o caso. Foi-me chamada a atenção para a sua música seguramente há menos de um mês, por isso é, a modos que, um amor recente.

Assim, este concerto no Lux caiu que nem uma luva para poder explorar melhor a sua música. Grande senão da questão: a primeira parte feita pela coqueluche (e, provavelmente, expoente máximo) da nova música pseudo-qualquer-coisa portuguesa, B Fachada. A azia começou logo com o facto do rapaz ter escolhido o mesmo restaurante que nós para jantar. E continuou na meia hora em que tivemos que o ouvir cantar - músicas que parecem sempre a mesma (apesar de acompanhado por um contra-baixista, nada salva o facto de as músicas serem repetições de um mesmo acorde...), letras metidas a intelectuais mas que no fundo nada mais são do que fúteis e nada espontâneas, e ainda os trejeitos do rapaz, que deve achar mesmo cool abanar incessantemente a cabeça, levantar o sobrolho e fazer beicinho, tudo enquanto canta naquela voz de falsete para a qual não há a mínima paciência!!! Também bastante interessante é ouvir os comentários dos pseudo-fãs deste pseudo-cantor - desde apelidarem-no de cantor de intervenção a elogiarem a crítica social das suas letras... Deve ser aquele refrão "quero ser como o Panda Bear/ e entrar onde eu quiser", concerteza... Mas como o objectivo não era ver esta Chachada, vou acabar este momento de libertação de azedume.
Felizmente, o Bernardinho (betinho de Cascais, by the way) deixou o palco para dar lugar a Vashti. A senhora veio acompanhada de dois músicos, uma rapariga e um rapaz. Ele esteve dedicado à guitarra, ela alternou por vários instrumentos, desde o xilofone à flauta transversal, passando pelo teclado, entre outros. Tocou durante cerca de uma hora, desfiando canções simples e doces, como se cantar fosse a coisa mais natural do mundo. Músicas que soam a um tempo onde o tempo não existe. Lembrando que nunca é tarde para fazermos o que gostamos, e chegarmos a um sítio onde realmente pertençamos.

F***r e ir às compras



Numa semana recheada de cultura, houve também espaço para uma ida ao teatro. Mais precisamente, ao Teatro São Luiz, para ver esta peça "F***r e ir às compras".
Noite de alguns percalços, nomeadamente o trabalho que durou até tarde e me fez atrasar, tendo perdido a primeira parte da peça. Assim, a opinião que posso, ou não, ter, não é particularmente fundamentada... Ainda assim, do que vi, não gostei por aí além. Serei eu muito púdica para este tipo de linguagem?

Histórias da Idade de Ouro



Regresso às ante-estreias com bilhetes ganhos por mérito próprio. O filme, com guião de Cristian Mungiu, realizador que ganhou a Palma de Ouro em 2007 com "4 meses, 3 semanas e 2 dias", é uma colecção de histórias de tamanho variável que pretendem relatar mitos urbanos referentes aos últimos 15 anos do regime comunista ditatorial de Ceausescu - a dita "Idade de Ouro".
As histórias, nesta versão (porque, aparentemente, há outra mais longa), são cinco. Na versão longa, eram seis. Histórias que abordam, através do humor, acontecimentos do dia-a-dia sob o regime comunista e as dificuldades passadas. As situações são caricatas, como convém aos ditos mitos urbanos. Desde um carrossel que é posto em marcha sem que haja ninguém para o desligar, até a uma matança do porco com recurso a gás, dentro de casa... Tudo é possível, porque os tempos eram difíceis.
Para não desvendar mais sobre o filme (porque senão não tem piada), posso apenas dizer-vos que gostei muito - desde o absurdo das situações à alegria das personagens, passando por todo o imaginário dos anos 80. Digo-vos, também, que uma das histórias me fez pensar que há situações no meu dia-a-dia que lembram um regime ditatorial... e mais não digo. Vão ao cinema.

Greenberg



Greenberg, o novo filme de Noah Baumbach. Não que tenha visto algum, mas fiquei a saber que o senhor é amigo de Wes Anderson e até o ajuda na escrita dos guiões - o que, por si só, já diz muito sobre ele.
Greenberg é Roger Greenberg, interpretado por Ben Stiller, de regresso a papéis menos comerciais. E extremamente magro, com os ossinhos da cara demasiado salientes. Greenberg mora em Nova Iorque, mas volta a Los Angeles para ficar em casa do irmão, enquanto este faz uma viagem com a família ao Vietname. De regresso ao local onde cresceu, Greenberg vai reencontrar-se com os antigos amigos (e fantasmas do passado). Mas vai, também, conhecer novas pessoas. Tudo isto numa onda de ressentimento, porque o senhor é, provavelmente, a pessoa mais egocêntrica e rancorosa à face da Terra! Todas as situações ele vê de uma forma complicada, exasperada. Todas as situações ele estraga, convencido em convencer os outros que não há esperança para a vida. Por isso, o melhor é fazer nada. Nada. Aliás, como se pode observar no diálogo com o seu melhor amigo: "Youth is wasted on the young."; ao que ele responde: "I'd go further. I'd go: 'Life is wasted on people.'" É este o sentimento que impera.
Apesar de tudo, parece haver pessoas que têm paciência para este senhor, que lhe dão o benefício da dúvida, apesar dele nem sequer o querer (aparentemente). Assim, contra todo o seu esforço, pode mesmo haver esperança para Greenberg. Graças, principalmente, a Florence (interpretada por Greta Gerwig, da qual muito gostei), a assistente/governanta do irmão, uma rapariga algo estranha, mas de uma generosidade cativante...

Fiquei algo surpreendida, porque, pelo trailer, estava à espera de um filme mais "cómico". Mas, pelo contrário, o filme é muito triste, no sentido em que as pessoas aí retratadas podem mesmo ter um lugar na vida real, e que é difícil perceber quais são as decisões correctas ao longo da vida. Claro que há situações cómicas ao longo do filme, mas são de um cómico-triste.
É um filme bonito. E triste. Que me deixa com algumas ideias para meditar.

"It's huge to finally embrace the life that you never planned on living."

e algo como

"Um psiquiatra disse-me um dia que não sei viver no presente. Por isso, vivo no passado, porque sinto que nunca o vivi verdadeiramente."

Humpday



Graças à prima Joana, eu e a Carol fomos ver a ante-estreia deste "Humpday - Deu para o torto". Já há muito tempo que não havia bilhetes à borla, estava com saudades!
Apesar de tudo, estavamos um pouco apreensivas, porque a sinopse do filme deixava um bocadinho a desejar: dois melhores amigos da faculdade encontram-se passado vários anos, sendo que trilharam caminhos muito diferentes; um casou e comprou uma casa, o outro é um artista que percorre o mundo em busca de aventuras. Numa noite de copos para festejar o reencontro, têm uma ideia fantástica: fazer um filme pornográfico com dois homens heterossexuais a ter relações um com outro, neste caso eles os dois. E fazem desta ideia um porta-estandarte do ideal artístico...
Como será óbvio, tal decisão acarreta um conjunto de situações muito divertidas, em que os dois homens se sentem, basicamente, em despique - quem é macho mais macho e que vai levar a ideia até ao fim?...
Embora a história seja, aparentemente, meia palerma, o filme é bastante divertido, e de uma forma inteligente. E, na minha opinião, acaba por ser também uma crítica social ao fenómeno que vivemos hoje em dia, em que qualquer coisa pode ser denominada de arte, desde que haja alguém a acreditar nisso... E que nós, comuns mortais, que não temos propriamente queda artística, não somos piores pessoas por isso, nem temos menos interesse ou profundidade.

1º de Maio no Porto (ou o passeio por Miragaia)

Para comemorar a chegada de Maio e o Dia do Trabalhador, a família Resende foi fazer uma visita, guiada pela tia Mana, à freguesia de Miragaia, cidade do Porto. Aqui fica uma amostra desse belo passeio.











O chamamento!



Jardim suspenso (da Babilónia...)