Trabalhos manuais e prendas de Natal

Este ano, houve algo que me deixou muito contente no Natal. E particularmente orgulhosa.

Consegui realizar, com muito trabalho árduo, grande parte dos presentes que ofereci a familiares e amigos.


Houve marmelada e geleia, em coloridos embrulhos vermelhos e brancos.


Houve peças bordadas a ponto-de-cruz para os bebés que estão quase aí a chegar.


E houve biscoitos de limão e de gengibre, numa aventura que durou várias horas e muitas fornadas!


No final, ficou uma grande felicidade da minha parte, em ser capaz de "criar" tudo isso, e em poder ver um sorriso do outro lado.
Isto, sim, é Natal.

A pele onde eu vivo

A minha última incursão a uma sala de cinema marcou o regresso ao Atlântida Cine (essa mítica sala de Carcavelos), para ver o último filme de Pedro Almodóvar, na companhia (habitual) da prima Carol.
O mais recente filme do realizador espanhol conta a história de Robert Ledgard, cirurgião plástico de renome e líder em novas terapias celulares adoptivas. (Aliás, aí está todo um capítulo sobre o qual poderia falar e que se refere à correcção com que são abordados os assuntos referentes à parte científica... valha-nos Santa Engrácia...)
Robert perdeu a mulher e, algum tempo depois, a própria filha, ambas em circunstâncias traumatizantes. O facto de a mulher ter sofrido queimaduras gravíssimas num acidente de automóvel deu-lhe a motivação para desenvolver uma terapia de forma a tornar a pele resistente a todo o tipo de agressões. Mas esta procura irá levá-lo a ultrapassar todos e quaisquer constrangimentos éticos...

Os filmes de Almodóvar conseguem abranger estilos algo diferentes, embora sempre com uma procura de "chocar" o espectador, de o emocionar. E sim, é verdade, é difícil ficar indiferente a um filme dele. Este "A pele onde eu vivo" fez-me lembrar "Má Educação", talvez porque me tenha, também, revoltado as entranhas. Tive uma daquelas reacções viscerais, de repulsa. A história é revoltante (parece-me incrível que algum dia alguém tenha, sequer, pensado em semelhante coisa), mas muito bem contada, com a cadência adequada. Não deixei de sair do cinema impressionada (e muito!). Aliás, durante alguns dias, não me saiu da cabeça aquela história, aquelas personagens...

Gostei muito do filme e aconselho-o a todos aqueles que se considerem suficientemente fortes. Aos outros, talvez seja melhor não o fazer. ;)

O homem que gostava de cães - Leonardo Padura

Ora aqui está um livro que comprei porque: (1) gostei do título; (2) quando vi que era sobre a vida de Trotski no exílio e sobre o seu assassinato, gostei ainda mais. E, assim, lá o comprei. Mas ficou uns bons 6 meses na estante, à espera de tempo e vontade para o ler. Que, finalmente, chegaram.

Leonardo Padura, escritor cubano, faz uma abordagem original do tema, que é contado a três vozes: o narrador propriamente dito, Iván; Liev Trotsky, ele mesmo; e Ramon Mercader, o homem que será o seu carrasco. A história começa quando, com a mulher às portas da morte, em 2004, o cubano Iván resolve contar-lhe uma história que carrega consigo há mais de 30 anos, e que começou no dia em que, numa praia de Cuba, conheceu um homem enigmático, acompanhado de dois galgos russos, que lhe revelou pormenores sobre a morte de Trotsky... Depois, recua até ao final dos anos 1920, altura em que Trotsky é enviado por Estaline para o exílio, e a partir daí continua a história, sempre intercalada entre as três personagens, até à altura da sua morte, no México, em Agosto de 1940.

Este é um livro, acima de tudo, sobre a desilusão, e uma enorme crítica ao comunismo. Ou como se processa a queda de uma utopia. Para mim, é um notável exercício sobre a nossa história recente, particularmente sobre a cultura russa, que é algo que, desde sempre, me fascinou. É um daqueles livros que serve dois propósitos: entreter e ensinar. E, por isso mesmo, aconselho vivamente a sua leitura. Até porque o saber não ocupa lugar.

Comédia de Insectos

Depois de muito procurar, não consegui arranjar uma imagem adequada para aqui colocar! Vai sem imagem, então.

Na passada quarta-feira, 30 de Novembro, o TUT (Teatro da Universidade Técnica) apresentou no Teatro da Trindade, por ocasião do 90º aniversário de Jorge Listopad (fundador do TUT), a peça Comédia de Insectos. Como é que eu soube do evento? Porque a Ana Rita Pires, minha colega de trabalho, integra o TUT e participa na peça. :)
Comédia de Insectos é uma peça da autoria dos irmãos Josef e Karel Capek, e teve, neste caso, encenação de Júlio Martín da Fonseca. É, a modos que, uma sátira à sociedade contemporânea, retratada através de diferentes comunidades de insectos - desde a avareza dos escaravelhos à inconsequência das belas borboletas. É uma interessante reflexão sobre a condição humana.

Gostei da peça, mas gostei principalmente de ver a Ana Rita tão bonita e confiante em palco. É assim mesmo, mulher! Continua assim.

Tradições...

Como já aqui referi, estes fins-de-semana outonais em família são pródigos em aprendizagens. Desta vez, não houve passeios nem fotografias, mas houve muito tricot! Finalmente consegui "convencer" a minha mãe a ensinar-me a fazer ponto de arroz. E, por conseguinte, aprendi também a fazer meia (porque liga já sabia desde pequena!).

Estou muito contente com estas novas "competências". Agora tenho que comprar agulhas e lã para poder treinar e lançar-me na aventura do tricot. :)

Uma vida melhor

Lá estou eu novamente a entrar em atrasos de escrita... É que, quanto menos escrevo, menos vontade tenho de escrever. Há que combater estes estados de espírito!!!

Ora bem, no fim-de-semana passado, e ainda no âmbito do Leffest (que é como quem diz Lisbon and Estoril Film Festival), fui ver com a prima Carol este filme de Cédric Kahn, o mesmo de Arrependimentos, de seu nome Une Vie Meilleure.

Tendo nos principais papéis os actores Guillaume Canet e Leila Bekhti, o filme conta a história de Yann e Nadia, um jovem casal que se apaixona de uma forma pouco ortodoxa e que, assim, enceta uma vida em comum, acompanhados pelo filho dela, Slimane. O sonho de Yann, chef de profissão, é ter o seu próprio restaurante, sonho esse que parece mais próximo quando uma oportunidade de negócio aparece. Mas o casal irá enredar-se numa teia de dívidas quando decide apostar tudo nesse negócio...
O tema do filme é, assim, extremamente actual e algo que assola muitas famílias: o sobre-endividamento. Como se chega a essas situações, como se lida com elas, quais as suas consequências e possibilidades de "fuga". Não é, como podem imaginar, um filme fácil ou para bem dispôr. Aliás, cheguei a uma dada altura em que só me apetecia sair dali, por causa da certeza que nada de bom iria acontecer. Nesse aspecto, é um filme de certa forma empático...

O que dizer, então, sobre a minha opinião pessoal? Gostei e não gostei. Há credibilidade na forma como a história é contada, embora com desenlaces em termos de narrativa que não me agradam particularmente (como seja a ligação a um determinado submundo). Também acho que se sente como se o início do filme estivesse em fast-forward - compreendo que não seja o objectivo do filme mostrar como o casal se relaciona, mas às tantas perde essa profundidade, que poderia ser interessante mais para a frente. E já toda a gente sabe que gosto de filmes/histórias que exploram relações entre pessoas.
É um bom filme, mas não necessariamente um filme de que se gosta. Põe-nos a pensar no que é necessário para termos "uma vida melhor"... E que talvez não seja nada de tão complicado como imaginamos.

Acabo com um pequeno apontamento, apenas para dizer que este filme conquistou o Prémio Especial do Júri e o Prémio Cineuropa no Leffest. Por isso, não há-de ser mau...

Pensei que o meu pai era Deus - Paul Auster

A minha última leitura foi esta antologia de pequenas histórias compiladas por Paul Auster. É um autor do qual gosto bastante, mas aqui não tem qualquer papel criativo, a não ser, talvez, na génese da ideia - convidado para fazer um programa de rádio, Auster lança um desafio aos ouvintes: enviarem pequenas histórias, que possam ser contadas durante a emissão, e que relatem factos singulares e verdadeiros. A resposta foi de tal forma monumental que Auster recebeu mais de quatro mil relatos, a partir dos quais editou e seleccionou aqueles que aqui se podem ler.

O resultado é um conjunto de histórias a roçar o inacreditável, mas ao mesmo tempo um verdadeiro retrato da América do século XX. Encontramos um pouco de tudo, desde retratos familiares a experiências traumatizantes no seio da guerra, passando por coincidências fenomenais (relativos a este último caso, há diversas histórias).

É um livro de fácil leitura, tanto por ser composto por histórias realmente pequenas em termos de dimensão (nunca ultrapassam as 4, 5 páginas), como por ter uma linguagem simples e coloquial (o que é normal, visto que são histórias reais contadas por pessoas do dito "mundo real", e não nascidas da imaginação fantasiosa de um escritor).

Embora tenha gostado, ao mesmo tempo soube-me a pouco. Digámos que não fiquei tremendamente impressionada, embora haja relatos que activaram a minha faceta mais introspectiva. Mas, na generalidade, é uma leitura demasiado fácil, um pouco superficial, se assim se pode pôr a questão. Sem com isso perder o seu mérito, claro está.

Mais um fim-de-semana de Outono...




Estes fins-de-semana de Outono têm sido pródigos em muitas coisa: passeios, gastronomia, convívio familiar... Tudo muito bom.

Experimentei, pelo primeira vez, fazer marmelada, segundo a receita da minha mãezinha. Devo dizer que correu bastante bem, está muito boa, tanto em termos de aspecto como em termos de sabor. E eu fico contente por ir, aos poucos, entrando nestes rituais tradicionais a que sempre assisti, mas onde agora tenho direito a participar.

The Ides of March

Sessão dupla de cinema num só dia não é coisa que aconteça muitas vezes. Mas o Lisbon & Estoril Film Festival assim obriga. Até porque a ante-estreia nacional deste último filme de George Clooney, The Ides of March (Nos idos de Março, versão portuguesa), dificilmente passaria em branco. Assim, agarrei nos dois últimos bilhetes (pelo menos, assim me disse a menina que mos vendeu) e obriguei a minha irmã a ir comigo à sessão, que incluía um masterclass com Paul Giamatti. Só boas razões para estar presente, portanto.

The Ides of March é um filme político. Apesar de parecer ser uma resposta à eleição de Barack Obama, aparentemente foi pensado quando Bush filho ainda estava no poder. Portanto, qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência (ou talvez não).

Mike Morris (Clooney) é um candidato democrata à Presidência dos EUA., mas primeiro é preciso ultrapassar as primárias (sistema esquisito, o dos americanos). Stephen Meyers (Ryan Gosling) é o seu jovem assessor de campanha, que acredita estar a trabalhar para o melhor candidato que a América já viu. Um idealista. Mas o decurso da campanha, e todos os seus meandros, irá provar que, em política, não há homens bons nem lugar para idealismos.

Como disse Giamatti durante a sessão de perguntas-respostas, este é um filme sobre o fim da juventude e a entrada na idade adulta. E sobre a desilusão que ocorre entre uma e outra. É um filme duro, recheado de boas interpretações. Um filme masculino, claro está. E um filme triste. Porque à parte o facto de a história se passar na arena política, o retrato está bem feito e todos passamos pela desilusão da idade adulta. O fim do lirismo. A gravidade que nos puxa os pés para o chão...

Ryan Gosling tem uma interpretação particularmente bem conseguida. O contraste entre o início do filme e a cena final é tal que parecemos conseguir sentir o que vai dentro daquela cabeça. A mostrar que é um actor versátil e que, apesar de não ser muito bonito, tem uma daquelas estrelinhas difíceis de explicar. E Giamatti é uma pessoa muito afável, entretendo o público que enchia o auditório do Centro de Congressos do Estoril até perto da 1h da manhã, com o seu estilo divertido e despreocupado.

Les amants du Pont Neuf

Começou o Lisbon & Estoril Film Festival. Mudou de nome e passou a incluir Lisboa no seu itinerário. À procura de maior visibilidade? Ou apenas uma forma do produtor Paulo Branco rentabilizar as "suas" salas de cinema (Medeia)?...

O cartaz de este ano, tal como nos anos anteriores, deve referir-se, é muito bom e inclui ante-estreias de vários filmes que irão marcar a cena cinematográfica deste final de 2011. Boas são também as retrospectivas propostas que incluem, entre outros, artistas como Wes Anderson (do qual muito gosto) e Leos Carax. E é precisamente este último que realizou o filme de que vou falar.

Les amants du Pont Neuf é um filme que já anteriormente me despertou a atenção. Porquê ao certo, não sei. Mas quando vi que passaria num sábado à tarde, pareceu-me um plano perfeito para uma tarde chuvosa. E, por isso, lá fui.

O filme conta a história de Alex e Michele, dois sem-abrigo em Paris. A Pont Neuf, em período de recuperação (nos idos 1991...), serve de casa a este casal improvável. Alex, viciado em álcool e sedativos, foi em tempos um acrobata. Michele, pintora, está nas ruas por razões pouco óbvias, enquanto a sua visão se deteriora de dia para dia. O amor nascerá entre eles, com Michele a tornar-se cada vez mais dependente de Alex, à medida que perde a visão. E o medo de perdê-la irá conduzi-lo a medidas desesperadas...

Imagens belíssimas de uma Paris que já não existe percorrem o filme, habitam-no. Como uma cidade se transforma em 20 anos... Mas com uma imutável beleza, sem dúvida. O filme não me fascinou. É um bom filme, mas não houve grande empatia, não sei bem porquê. Mas é um filme que vale a pena, quanto mais não seja por uma Juliette Binoche extremamente nova e por um cenário a que é difícil ficar indiferente.

Finalmente, fotografias!

Agora que já passou mais de um mês desde que regressei das minhas férias, finalmente tive acesso às minha fotografias reveladas! Isto de ser fã do analógico tem muito que se lhe diga (e exige muita paciência também...). Depois de muito procurar, optei por revelar os 6 rolos na Embaixada Lomográfica do Porto (até porque uma das minhas máquina é uma Lomo Sprocket Rocket). Mas não estou muito satisfeita, porque detectei vários problemas, quer ao nível da revelação propriamente dita, quer ao nível da digitalização. Enfim...

Problemas à parte, ficam então algumas fotos do belo passeio! Ah, devo referir que primeiro estive uns dias em Paris, cidade que eu adoro, em visita à R., e daí fui de comboio até Basileia, visitar o J., de onde seguimos para uma viagem pela Suiça! Ricas férias.


Jardin des Tuileries

Vista da janela da R.

:)

Place des Vosges

Jardins du Ranelagh





Lucerna vista das muralhas

Funicular do Monte Pilatus

Tomlishorn

Lucerna

Glaciar Aletsch

No glaciar Aletsch

Lago Oeschinen, Kandersteg

Kandersteg


Fotografias por Rita Barbosa

Fim-de-semana prolongado

Régua / Douro

Pinhão / Douro

Pinheiro

Pinheiro

O prolongamento do fim-de-semana trouxe consigo o regresso à minha querida terrinha, Cinfães. Foi um fim-de-semana de família, amigos, passeios, lareira, ... Tudo o que eu gosto e me faz feliz. E o tempo ajudou aos passeios e às fotografias, das quais vos deixo aqui umas amostras.

Adoro o Outono. Tem um calor que nenhuma outra estação consegue igualar. O vermelho da folhagem das árvores (que saudades da vinha-virgem...), as castanhas, a luz oblíqua do final do dia, entre tantas outras coisas... Não tem comparação.

Isto tudo quando não está a chover, é claro. :)

Água Fria + 30.000 anos (Doc Lisboa)

Água Fria, de Pedro Neves

30.000 anos, de Maya Rosa

A incursão ao Doc Lisboa deste ano tinha como objectivo ver o documentário de Gonçalo Tocha, É na Terra e não é na Lua, que recebeu uma menção especial no Festival de Cinema de Locarno. Talvez por causa desse mediatismo, a sessão já se encontrava esgotada quando, duas horas antes, chegámos à Culturgest para comprar bilhete... Por isso, foi preciso recorrer ao plano B, que é como quem diz optar pelo programa do Pequeno Auditório, que incluía estes dois filmes: uma curta metragem de Pedro Neves sobre as festas de São Bartolomeu do Mar (Água Fria) e uma média duração de Maya Rosa sobre a humanidade, tendo como pano de fundo a construção do Museu do Côa (30.000 anos).

O primeiro documentário, quase sem palavras, é um olhar benévolo sobre uma romaria tradicional da zona de Esposende, que se realiza no dia 24 de Agosto, em São Bartolomeu do Mar. Um dos rituais mais típicos inclui o mergulho das crianças no mar, por três vezes consecutivas. Este ritual procura proteger os mais novos contra o mal em geral e as doenças. O realizador observa as pessoas que participam na romaria, de uma forma que procura ser desapaixonada mas que não consegue evitar fundir-se na multidão, que não fica indiferente à sua presença.

O segundo filme, devido à sua duração, é também mais consistente e já tem mais intervenção. A realizadora foi para Vila Nova de Foz Côa e procurou, através da sua população, fazer um retrato da evolução da humanidade (tema particularmente interessante naquele local, devido à existência das gravuras rupestres que comprovam a presença humana naquele sítio desde há largos milhares de anos). O período temporal coincide com a construção do Museu do Côa, obra polémica no seio da população local (talvez por verem gastar-se tanto dinheiro numa obra, num sítio onde a população é tão carenciada e sem recursos... mas esta é a minha interpretação, claro).

Gostei muito de ambos. Cada um com o seu encanto e as suas limitações, está claro. Mas são os dois sobre o povo de Portugal, e esse povo vale a pena ser ouvido e documentado. Para ver se perdemos a vergonha de sermos quem somos. Ao perdermos essa vergonha, poderemos finalmente sentir orgulho naquilo que somos como país, como cultura, e assim sermos um povo mais forte e unido.

Eu tenho orgulho nesta sabedoria popular.


PS - Esta sessão documental deixou-me com vontade de filmar, realizar. Documentar a beleza das gentes e do mundo. Já não é a primeira vez que tal me acontece. Pode ser que um dia apareça a oportunidade...

O génio barbudo ao vivo no Maria Matos


Bonnie "Prince" Billy é um daqueles senhores de quem gosto há já muito tempo. Não sei bem como me veio parar às mãos, mas tenho ideia que foi num daqueles milhentos CDs que a minha irmã trazia para casa, emprestados não sei bem por quem, quando andava na faculdade. Na altura, fiquei com uma dupla gravação de Master and Everyone e Ease Down the Road - que até hoje continua a conter as músicas de que mais gosto (não há amor como o primeiro, dizem uns e outros). O senhor, de seu verdadeiro nome Will Oldham, tem uma produção musical prolífera, para dizer o menos, com vários alter-egos, e é difícil uma pessoa (eu) manter-se a par de tudo. Mas até me fui mantendo informada, pelo menos durante os últimos anos.

No ano passado, o senhor Bonnie passou por Lisboa para um concerto na Sociedade de Geografia (ou como raio de se chama aquilo), mas não houve oportunidade para o ir ver. O que significa que, quando soube do concerto no Teatro Maria Matos, pensei para comigo que não poderia deixar de ir, mesmo que sem companhia e muito medo das possíveis consequências emocionais de ir assistir ao concerto. A falta de companhia resolveu-se, mas o medo continuou.

O dia 24 de Outubro chegou finalmente. Contratempos à parte, lá entrámos e pusemo-nos a jeito para ouvir o senhor Oldham, mais a sua banda. Foi um belo concerto e o medo rapidamente se dissipou, porque o senhor não estava, nitidamente, em dia nostálgico. Assim, fugiu das suas canções mais melancólicas como o diabo da cruz, e abordou, durante 2 horas, um repertório mais folk e desinibido. É pena que ele não seja particularmente comunicativo e, assim, quase não falou com o público. As canções sucederam-se, sem considerações. E foram muitas, as canções. Das quais apenas (re)conheci uma, Quail and Dumplings, primeiro single retirado do último álbum, Wolfroy Goes to Town. Percebi, depois, que conhecia outras músicas que foram tocadas, mas as roupagens diferentes fizeram com que soassem completamente novas aos meus ouvidos. Ou, então, houve aquele sensação de reconhecimento sem saber propriamente de quê, como às vezes acontece com determinadas pessoas ou situações.

Gostei muito. Não foi emocionalmente desgastante como estava à espera, e ainda não consegui perceber se isso foi bom ou mau. Mas foi muito bom ter ido.

Apenas miúdos - Patti Smith



Mais uma prenda de aniversário que viu o "seu tempo" chegar. Depois das férias (sobre as quais ainda não falei por cá, mas deve estar para breve - assim que tiver fotografias!), apeteceu-me ler em português e este primeiro "romance" (digámos antes livro em prosa) de Patti Smith pareceu-me o ideal. Obrigada, Cristina e Pedro, pela oferta.

Devo confessar que não conheço muito de Patti Smith, nem tão pouco fazia ideia de como a sua vida a tinha conduzido até aos dias de hoje. Claro que sei que é uma cantora icónica, com obra seminal no rock'n'roll. Mas pouco mais. Foi assim com grande curiosidade e poucas expectativas que me lancei na leitura deste "Apenas miúdos", obra autobiográfica que retrata a relação que Patti viveu com Robert Mapplethorpe, fotógrafo de renome.
A relação entre os dois aconteceu de forma fortuita, quando ambos tinham cerca de 20 anos, mas durou até à morte de Robert, em 1989. Os processos criativos foram mutuamente influenciados e, enquanto se definem como artistas, definem-se também como pessoas.

Gosto muito de ler biografias. Dá-me a sensação de estar a aprender algo durante o processo de leitura, como se não fosse apenas lazer. Esta é particularmente interessante e comovente, porque mostra como a relação entre duas pessoas pode ser tão genuína e duradoura. Mas não só por isso. É também interessante por mostrar o quão aleatória é a vida, no final das contas. Ao ler sobre o início de vida de Patti Smith, e sobre como ela chegou ao "posto" que ocupa hoje, de estrela de rock, é quase inacreditável como é que uma coisa levou à outra.

Gostava de acreditar que hoje em dia ainda existe esse tipo de espontaneidade e aleatoriedade. Mas acho que não. Tudo é demasiado pensado, racionalizado, escrutinizado - arte incluída. Como diria o nosso amigo Charlie Chaplin:

"We think too much and feel too little."

Domingo de Outono

Parece que o Outono finalmente chegou, num domingo como qualquer outro.

Mas o dia até começou solarengo, e o gato Alberto aproveitou bem esses últimos raios de sol.



Agora que o dia está definitivamente cinzento, há que aproveitar para fazer aquelas coisas para as quais normalmente não há grande tempo: cozinhar, ler, brincar com a sobrinha que observa atentamente a chuva que cai lá fora...




E aproveitar também para pôr mãos-à-obra nos novos bordados, que os "crianços" não tarda nada já estão cá fora. :)

Um belo domingo, portanto.

Amor Estúpido e Louco



E depois de um filme um pouco soturno, nada melhor do que esta comédia hollywoodesca recheada de estrelas (consagradas ou em ascensão) para descontrair!

Apesar do momento ser o mais oportuno para ver um filme como este, devo confessar que este visionamento já está na calha desde Agosto (ou por volta dessa altura), quando vi o trailer do filme e fiquei rendida àquela cena fantástica em que a personagem da Emma Stone se vira para a personagem do Ryan Gosling e lhe diz "take off your shirt" e quando ele tira a camisola ela exclama "oh, my God, it looks like you've been photoshopped!!!" - há já muito tempo que não me ria tanto e a cena é das melhores que já vi (dentro do género, está claro). E sim, ele parece que foi trabalhado no Photoshop, confirma-se.
A história, como não poderia deixar de ser, não tem nada de especial: Cal (Steve Carell) e Emily (Julianne Moore) são um casal à beira da meia-idade com uma vida estável. Nada faria prever que, no regresso a casa depois de um jantar a dois, Emily viria a pedir o divórcio - o que deixa Cal completamente à deriva. Até conhecer Jacob (Ryan Gosling), bon vivant sobre o qual pouco sabemos, que irá conduzir Cal pelo caminho do amor-próprio e da redescoberta da sua masculinidade. E é precisamente esta relação entre Cal e Jacob que dá ao filme grande parte da sua piada. Se já sabíamos que Steve Carell é um grande comediante, o mesmo não se pode dizer de Ryan Gosling, que aqui prova ser um actor muito versátil (para além de uma carinha laroca). Aliás, todos os actores estão muito bem nas suas personagens.

Gostei muito. É um filme divertido, sem ser idiota (que é algo que nunca consigo achar piada). Bem dispõe e dá para consolar as vistinhas (para quem gosta do Ryan Gosling, está claro - embora ache que o rapaz tem que começar a fazer menos musculação, é demasiado...). Uma boa aposta para estes dias cinzentos de início de Outono. Esses mesmos que insistem em não chegar...

Un homme qui crie (Festa do Cinema Francês)



Passados três anos, o regresso à Festa do Cinema Francês. Não que não goste (qualquer um que leia este blog consegue perceber que gosto bastante de cinema francês), mas o facto de ser em Outubro costuma implicar uma certa falta de disponibilidade da minha parte. Felizmente, este ano isso não aconteceu e até tive a sorte de ganhar bilhetes para a sessão à qual já tencionava ir. Os astros conspiraram, portanto.
Este "Un homme qui crie", Prémio do Júri do Festival de Cannes na última edição, é realizado e escrito por Mahamat-Saleh Haroun, originário do Chade (confesso que não sei como se designa alguém que nasceu no Chade...). É também no Chade que se passa a acção do filme: Adam é um sexagenário, antigo campeão de natação, que actualmente trabalha como "guardião" da piscina de um hotel chique da cidade. Reestruturações na gestão do hotel fazem com que Adam seja despromovido, em favor do seu único filho, Abdel, algo que irá deixar Adam destroçado. E, nem de propósito, o clima de insegurança que se vive no país começa a aproximar-se da guerra civil, exigindo a todos sacrifícios...
A dinâmica deste filme é uma daquelas complicadas, que filmada de uma outra forma poria meio mundo a chorar baba e ranho. Mas não. Apesar de tocante (Youssouf Djaoro, que interpreta Adam, tem um desempenho belíssimo), não entra por caminhos de sentamentalismos baratos. É um filme estóico, e também sobre o estoicismo da vida. Que aqui raia o egoísmo em muitas das suas vertentes. A vida é complicada, assim como as escolhas que se têm que fazer.
O título do filme, "Un homme qui crie" (um homem que grita), acaba por ser um paradoxo - porque o homem em questão nunca grita, mas gritam antes os seus olhos. Uma bela metáfora.

Juliet, Naked - Nick Hornby


Ir a Paris e não ir à Gibert Joseph ou à Gibert Jeune é quase como cometer uma heresia. E, lá estando, é um pecado não comprar um livro em 2ª mão (ou 1ª, caso não se encontre nada de jeito).

Desta vez, a passagem pela Gibert Joseph foi muito rápida (lá está, só porque seria uma heresia não entrar), e dela saiu a compra deste Juliet, Naked, em 2ª mão claro está, última obra desse autor que eu tanto gosto, à custa de umas e outras (não é, Meninha?!?). Última obra que já data de 2009, mas que eu ainda não tivera oportunidade de ler.
Ora bem, este é um típico livro de Hornby, que escreve, maioritariamente, sobre relações e pessoas (complicadas em ambos os casos). Como provavelmente já deram conta, são temas com os quais me identifico muito. Mas voltemos ao livro.
Juliet, Naked conta a história de Annie, rapariga perto dos 40 anos, que namora há mais tempo do que gostaria de admitir com Duncan, um obcecado por Tucker Crowe, músico que abandonou a sua carreira há cerca de 20 anos, sendo que ninguém sabe o que lhe aconteceu desde então. A relação entre os dois é morna-morna, como duas pessoas que se habituaram a estar juntas porque nunca se deram ao trabalho de ver se há mais mundo lá fora... Lá estão os ingredientes favoritos de Hornby: relações complicadas e música (porque a música tem sempre um certo poder redentor no meio da confusão). Ao fim desses quase 20 anos, Tucker (ou, melhor, a sua editora) lança "Juliet, Naked", um disco de versões em bruto das músicas presentes na sua "obra prima", Juliet, disco dedicado à relação falhada que teve com uma modelo inglesa. Duncan recebe, em primeira mão, o novo álbum, mas é Annie que irá ser a primeira a ouvi-lo - desencadeando-se, assim, o princípio do fim da relação entre os dois. Este acontecimento, aparentemente inócuo, terá consequências "devastadoras" na vida de Annie - tudo, mas rigorosamente tudo, vai mudar.
Acho que o que me faz gostar das histórias de Hornby é o facto de as personagens serem tão credíveis que, eventualmente, acabo por me identificar com alguma situação. Isto aliado ao facto de haver sempre alguma saída airosa para situações semi-desesperadas, mesmo quando as pessoas em questão são completamente ignorantes em termos emocionais.

Dá-me esperança. Talvez não esteja tudo ainda perdido. E, mais tarde ou mais cedo, alguma saída airosa acontecerá por aí.

Life of Pi - Yann Martel



Mais um daqueles livros que estava na prateleira há anos. Houve, inclusivamente, uma tentativa de leitura que se ficou pela metade, por não haver motivação suficiente. Mas, desta vez, tudo foi diferente (vá se lá perceber porquê!).
A história é peculiar (para dizer o mínimo): um naufrágio de um navio de viagem entre a Índia e o Canadá junta, num bote de salvamento, um rapaz de 16 anos (Pi), um tigre-de-bengala, um orangotango fêmea, uma hiena e uma zebra com uma perna partida. Combinação mais estranha e improvável seria difícil. Mas dessa combinação nasce uma história fantástica, quase difícil de acreditar!
Cerca de 80% do livro trata da viagem a bordo do bote de salvamento. Aborrecido?... Nem um pouco. Pelo contrário, a leitura torna-se viciante, queremos sempre saber o que acontece a seguir, como é que a luta pela sobrevivência, dia após dia, se vai processando. Sempre a cruzar os dedos para que o impossível aconteça e todos acabem a viagem, sãos e salvos. A escrita de Martel é muito visual, apelativa, cheia de cores e movimento.
É difícil descrever este livro melhor do que isto (embora não me sinta particularmente eloquente neste momento...), porque é uma daquelas experiências que tem que ser a própria pessoa a ter. Se vos parece uma história com potencial, experimentem. Acho que não se vão arrepender.

O Cemitério de Praga - Umberto Eco



Esta foi uma daquelas leituras fáceis. Apenas três semanas, o que não é mau se tivermos em consideração as cerca de 550 páginas que constituem este livro. Prenda de aniversário (muito obrigada!), viu a sua leitura começada no próprio dia da oferta, muito por causa de ter sido uma sexta-feira com viagem de comboio Lisboa-Cinfães. Logo aí foram 100 páginas! (o que significa que a leitura esmoreceu um pouco depois deste fantástico ímpeto inicial) Embora o ritmo inicial não se tenha mantido, foi um leitura divertida. Mas vamos à história.

O tempo da acção centra-se, principalmente, na segunda metade do século XIX. O "actor" principal é um tal de Simone Simonini, falsário de renome e que vive embrulhado em tramas e conspirações dignas de uma opereta - garibaldinos, napoleónicos, maçónicos ou hebreus, todos estão envolvidos. O mais interessante no meio disto tudo é que, supostamente, todos os factos que constam do livro são verdadeiros. O que é, no mínimo, inquietante. Assuntos de Estado tratados com a leveza de gestão de mercearia, conspirações internacionais com intuitos a roçar o caricato. Lá está: como romance é altamente interessante e entertaining (peço desculpa, mas não consegui encontrar o equivalente em português), mas se nos pusermos a pensar que são factos históricos... Outros tempos? Ou será que hoje em dia também acontecem coisas do género?... Muito provavelmente.

Não querendo entrar em muitos pormenores sobre o enredo, até porque considero muito mais estimulante ser o próprio leitor a fazê-lo, digo apenas ainda que o final acontece em clima de anti-clímax, como aliás dá para adivinhar ao longo da leitura.

Recomendo vivamente, mas "aviso" desde já que é preciso em certo sentido de humor para ler este livro. Isso e não ser facilmente impressionável.

Angèle et Tony



E não é que com este filme francês, primeira obra da realizadora Alix Delaporte, cheguei ao post número 100 de cinema deste blog?... Um acontecimento a assinalar.

"Angèle et Tony" conta a história de, como não poderia deixar de ser, Angèle e Tony - ela recém chegada a uma pequena vila piscatória da Normandia, ele pescador profissional nessa mesma vila. Como se dá o encontro, nunca chegámos verdadeiramente a perceber. Ela, de uma beleza bruta, imediatamente o atrai, mas muito caminho terá que ser percorrido para que estas duas personagens se entendam. Ela tem um passado que ele desconhece, e que só a conta-gotas é revelado. No entanto, ele não está preocupado com isso, e apenas quer que ela não mascare as suas fragilidades através de comportamentos desinibidos... Será que têm futuro? Talvez, mas realmente, tal como li numa crítica ainda antes de ver o filme, não é propriamente isso que importa. Ao espectador, interessa a forma como a realizadora conta esta história, a forma como a filma, e como os actores a vivem. Porque a história é corriqueira, nada tem de extraordinário.

No entanto, há um entendimento entre Clotilde Hesme (Angèle) e Grégory Gadebois (Tony), um par improvável, aliás, que torna este filme bonito e tocante. Também ajuda o facto de a realizadora optar por dizer menos e deixar ao espectador esse trabalho de adivinhar, ler nas entrelinhas... Ajuda a dar mais riqueza ao argumento.

Por último, gostei também das paisagens e do ambiente em que as personagens se inserem. O norte de França é lindo, e aqueles cenários áridos da Normandia trazem-me saudades...

Um belo número 100, sem dúvida.

La nausée - Jean-Paul Sartre



Para não variar, ando atrasada na escrita deste blog. A culpa deve ser deste Agosto lento, que parece que já começou há uns 3 meses... E ainda nem 3 semanas passaram... Mas vamos ao que interessa.
Lenta foi, também, a primeira leitura que fiz de Sartre, o francês "maldito" que em 1964 recusou o Nobel da Literatura... pormenores. Ia dizendo que este "La nausée", primeiro romance de Sartre datado de 1938, foi a minha primeira incursão à obra deste autor que tanto marcou o pensamento do século XX. Demorou até arranjar coragem suficiente para embarcar nesta leitura, se pensar que este livro me foi oferecido há 6 anos... Sartre na sua língua materna não é tarefa para abraçar de ânimo leve!!!
Agora que já fiz esta longa introdução, que posso eu dizer sobre o livro?... Pergunta difícil, pois então. Este "La nausée" é um livro sem história, em que o fio condutor é a narração feita por um individuo, escritor em crise, que descreve os seus dias e o que o rodeia de forma desapaixonada. No entanto, acho que posso dizer que identifiquei, ao longo do livro, a presença das sementes do existencialismo - a forma como o escritor observa e se relaciona com o que lhe é exterior, para mais tarde se dar conta que tudo isso "existe" (como, aliás, ele próprio verbaliza). Não deixa de ser interessante aperceber-me disso, de como essa questão foi sempre tão importante para Sartre.
Embora tenha sido um pouco difícil manter a motivação ao longo da leitura, tal não aconteceu por o livro não ser suficientemente interessante, mas simplesmente por causa da sua cadência. Gostei, mas não sei se será experiência para repetir. Pelo menos, para já.

CocoRosie em concerto de garagem (e não foi na lá de casa)



Sempre atrasada... Mas numa semana com tantas actividades culturais, foi difícil manter este blog actualizado. Os últimos dias de Julho trouxeram consigo uma visita das irmãs Cassidy ao nosso país. Conheci-as com o primeiro (acho eu) concerto que deram em Portugal, no ido ano de 2004, em Paredes de Coura. Na altura, ouvia a Antena 3, em directo do festival, e fiquei muito impressionada com a música peculiar feitas por estas meninas, de nome Cocorosie. O nome, esse, vem dos apelidos que a mãe arranjou para cada uma delas: Coco para Bianca, Rosie para Sierra.
Quem conhece sabe que a música destas duas irmãs é peculiar. Mistura estilos muito diferentes, desde o funk ao canto lírico. E depois há a voz de Bianca, metálica, como que distorcida, de uma beleza áspera. E a excentricidade de Sierra. Tudo junto torna-as únicas.
Desde esse Agosto de 2004 que tinha vontade de as ver ao vivo. Razões logísticas fizeram com que apenas 7 anos mais tarde isso acontecesse. Valeu a pena esperar?...

Valeu. Claro que já não estão a apresentar "La maison de mon rêve", esse disco mágico. E eu não conheço bem o disco mais recente delas, de 2010. Por isso, senti-me um pouco perdida durante o concerto no Lux, discoteca lisboeta, onde passaram canções atrás de canções sem que nada me soasse familiar. No entanto, as irmãs Cassidy têm um magnetismo que torna tudo isso um pouco secundário. O espectáculo vale a pena, visual e sonoramente falando. Sierra mais expansiva, mas sem cabriolices (como tinha acontecido no concerto da véspera, na Casa da Música) devido ao tamanho reduzido do palco. Aliás, o grande problema deste concerto foi o local onde se realizou. O Lux não tem condições para este género de concertos, e Cocorosie merecia, sem dúvida, algo melhor. Erro da promotora do espectáculo... Mas tudo acabou por valer muito a pena, porque o concerto acabou com um encore de "By your side", essa pérola pertencente ao primeira álbum das irmãs. Comovente.

Festival ao Largo com a CNB - Uma coisa em forma de assim



O Festival ao Largo vai na sua terceira edição, mas só este ano passei pelo largo do São Carlos, nesta iniciativa que pretende democratizar o acesso à cultura, na forma de espectáculos gratuitos de música sinfónica, coral, e de dança.
No meu caso, fui assistir a este espectáculo de dança, protagonizado pela Companhia Nacional de Bailado (CNB), de seu nome "Uma coisa em forma de assim" (título sugestivo...). É construído tendo como base música composta por Bernardo Sassetti, para o qual 9 coreógrafos portugueses (os mais conceituados) foram convidados a criar peças.
Chegámos ao largo por volta das 20h, pensando que seria uma hora adequada para guardar um lugar sentado (o espectáculo era às 22h). Surpresa (ou não), poucos lugares livres havia! Mas ainda havia para nós, por isso bem bom. É engraçado ver toda a gente à espera, com sacos de comida improvisados, sandes e snacks... Eu não fui tão prevenida e tive que recorrer ao café mais perto (por sinal, bem bom também).
Ora então, o espectáculo. Embora a visibilidade não fosse fantástica (por vezes ainda pior graças a uma senhora que insistia em levantar-se), foi muito interessante. Uma primeira peça comum, com todos os bailarinos, e depois pequenos trechos (os tais), com grupos mais pequenos. Houve uns que gostei mais, outros menos. Mas o último foi particularmente engraçado, com uma coreografia a incluir o próprio Sassetti e o seu piano, sensualmente interpretada a dois. No geral, tanto a música como a dança foram muito bonitas - é um espanto ver aquelas pessoas a dançar, parece tudo tão simples...
Gostei muito, é uma iniciativa realmente interessante por parte do Teatro São Carlos, e prova que o público adere a este género de coisas, porque o largo tornou-se pequeno para albergar tantos espectadores. Espero que seja para continuar.

O colectivo animal, antecedido pela meia-hora mais dolorosa da história da música



Após convite inesperado (e muito agradecido!), fui ver os Animal Collective em concerto no Centro Cultural de Belém (CCB), na passada segunda-feira. Desde logo, e há já algum tempo, a surpresa pelo local escolhido para semelhante concerto - muito pouco ortodoxa, mas a promotora lá saberá melhor do que nós.
A primeira parte, responsabilidade dos portugueses Aquaparque, foi horrenda. Não há palavras para descrever o que os dois senhores fizeram em palco. Uma amálgama sonora com muito pouco nexo, a complicar (ao infinito) uma música que até poderia, eventualmente, e com muita sorte, ser audível. Foi ver o pessoal a abandonar a sala aos magotes, mas nós achamos por bem ficar no nosso lugarzinho, mesmo em frente à mesa de som. Má ideia, portanto.
Depois de um (longo) intervalo, subiram então "os animais" ao palco, recebidos por um público entusiástico que, entretanto, tinha basicamente enchido o CCB. O que se passou então foi um momento difícil de definir: talvez porque o som no sítio onde estávamos fosse particularmente pujante, mas o que é certo é que fiquei colada à cadeira durante o tempo do concerto, abanando a cabeça ocasionalmente quando a música era mais ritmada. Foi estranho. Não sei explicar. Como não conheço assim tão bem a obra dos senhores, senti-me um pouco perdida. Mas acho que não fui a única, porque a maioria das canções eram experiências para um novo trabalho...
No geral, foi uma experiência engraçada. Mas não fiquei muito fã, até porque não tocaram o "My girls", que eu gosto tanto... E continuo a achar que a escolha do local foi completamente desadequada.

Super Bock Super Rock 2011, ou o regresso a um passado empoeirado



Já passou mais de uma semana desde o fim-de-semana mais... calamitoso, provavelmente, dos últimos tempos. Tenho que confessar que as expectativas já não eram muito favoráveis: o tempo de ir a festivais de Verão já ia lá bem longe (2003 ou lá perto), a minha fé nesse género de eventos também não estava no seu melhor momento. Mas a decisão estava tomada, por isso as 4 chicas rumaram a sul, em direcção ao Meco!
Os problemas começaram pouco tempo depois de atravessar a ponte 25 de Abril: fila de trânsito, compacta, e que se manteve quase até ao recinto. Houve alturas em que desliguei o carro e tudo, imagine-se lá! Relatos do "exterior" iam-nos dando conta do caos que já se vivia no recinto, nomeadamente na falta de espaço para acampar... Facto que constatámos assim que finalmente entramos no acampamento, já quase às 19h - para além do espaço em si ser mau, com desníveis e troncos de árvores um pouco por todo o lado, espaço disponível para montar 3 tendas também era coisa que não abundava. Tivemos que ser imaginativas, portanto. Concertos só começaram, basicamente, com Beirut, que me encheu o coração, apesar de não ser um concerto de festival. Fico à espera que o rapaz decida vir fazer um concerto em condições a Portugal, num espaço como a Aula Magna, por exemplo... De seguida, rumámos até ao Palco EDP, onde estava a sueca Lykke Li a tocar, no momento da noite. Um grande concerto, de uma senhora com uma grande voz e uma grande presença em palco. Muito bom. O regresso ao palco principal ainda nos deixou ver o encore de Artic Monkeys, mas nada que despertasse demasiado a atenção.
Uma noite nada bem dormida (já não me lembrava que o pessoal tem a mania de não se calar durante toda a noite...) trouxe consigo o segundo dia de festival. E também a percepção das limitações da organização do dito cujo. Ora então: logo de manhãzinha já havia filas para os chuveiros (talvez por serem muito poucos), bem como para as pias onde lavar a louça... Depois, filas havia para apanhar os autocarros para a praia... Onde chegámos já quase ao meio-dia. Praia muito gira, enorme, onde nunca tinha estado. Nus, não vi, parece que estavam lá mais para o fim da praia... O regresso ao recinto fez-se cedo, para evitar as filas de trânsito (muito vistas por aqueles lados), e houve então direito a um banhinho gelado - maravilha!!! Bem, vou cortar nos pormenores, para vos dizer que o segundo dia foi realmente o melhor em termos de concertos, mas também o mais complicado, em termos de gente. Havia tanta gente no recinto que não se viam clareiras, e o pó era tanto no ar que quase tornava impossível uma respiração normal!!! Apesar de nem sequer termos pensado em ir muito para junto do palco, fomos pisadas e empurradas, por pessoas que achavam que havia mais espaço do que na realidade... Não obstante, Portishead deram aquele que foi "o" concerto deste festival, recriando musicalidades que nunca pensei ser possível fazer ao vivo. Um concerto emocionante e emocional, sem dúvida, que mexeu com os meus limites. De seguida vieram os Arcade Fire, grupo do qual descobri não gostar por aí além, mas que deu um concerto muito bom, cheio de energia. E só não conhecia 3 músicas, por isso acho que até passava por fã.
Ao terceiro dia, lá aprendemos qualquer coisa e fomos passear - primeiro até à Lagoa de Albufeira, com uma praia bem bonita, e depois até Sesimbra, que é um sítio espectacular. Com os ânimos um pouco mais recompostos, lá enfrentamos o último dia de pó e música (por esta ordem), que acabou por ser uma desilusão. Se expectativas já não havia para nomes como Brandon Flowers ou Slash, The Strokes conseguiram dar um concerto morno morno, com um Julian Casablancas que parecia não saber onde estava, nem o que estava a fazer. Isso, aliado aos problemas de som, tornou o concerto pouco menos que sofrível. E assim chegaram ao fim 3 dias de grandes dificuldades logísticas e muita irritação (porque eu tenho muito mau feitio!!!), que acabou por ter pouca música, para tantos dias de festival. Mas houve música muito boa, por isso não foi mau de todo.

Mas não creio que me apanhem lá outra vez.

Ah, um pequeno apontamento para falar, ainda, de Noiserv, que deu um concerto bem giro ao ínicio do segundo dia de concertos, e de Chromeo, que também me pareceu estar a fazer um bom trabalho no palco EDP, no final do mesmo dia. Pena que o cansaço era tanto que já só conseguíamos abanar a cabeça...

Pequenas mentiras entre amigos



Há vida pós-Cartão Medeia.
Julho trouxe consigo o fim de uma "amizade" que durou pouco mais de um ano. A conjectura económica fez com que deixasse de ser proveitoso ser assinante do Cartão Medeia e, por isso, cancelei-o. Mas nem por isso se acabaram as idas ao cinema. Aliás, há agora mais liberdade de escolha em termos de filmes.
Num dia algo atribulado, com uma tentativa frustrada de ir à Cinemateca ver "Guerra Civil", um filme português com muito boas críticas - não chegamos tarde, mas quando chegamos os bilhetes já estavam esgotados. Ir a correr para o El Corte Inglés, chegar mesmo em cima da hora do filme, uma fila gigantesca para comprar bilhete (mas que raio é que se passa com esta gente???). Stress! Graças à intervenção da prima Carol, lá conseguimos ver este "Pequenas mentiras entre amigos", de Guillaume Canet (um actor do qual gosto muito), com apenas 5 minutos de atraso em relação ao real início do filme.
O filme segue a vida de um conjunto de amigos, trintões ou mais velhos, que todos os anos fazem férias juntos, na mansão de férias de um deles, no sul de França. Este ano, no entanto, um deles sofreu um acidente de mota e está hospitalizado, em estado grave. Ainda assim, os restantes membros do grupo decidem que não ficam a fazer nada em Paris e partem de férias. O mau-estar provocado pelos remorsos e pelas mentiras que impingem uns aos outros irá, contudo, pôr estas férias em risco...
Este é, então, um filme na tradição de "Amigos de Alex", unicamente baseado na complexidade das relações humanas. É um filme interessante, mesmo com as suas 2h30 de duração! Há apontamentos de humor, mais ou menos bem conseguidos, e há outros momentos que não resultam tão bem. Mas, no geral, é um filme que vale a pena ver. Gostei.

Ah, as filmagens nas imediações da duna de Pylat são muito boas!!! É realmente um sítio espectacular. :)

O furacão a fechar o fim-de-semana


Noite de domingo a fechar um fim-de-semana animado - nem de propósito, Sharon Jones, acompanhada dos seus Dap Kings, foi até à Casa da Música para incendiar os ânimos. Inicialmente previsto para a Sala 2, o concerto acabou por se realizar na Sala Suggia, a principal, devido à elevada afluência de público. Porque o pessoal sabe o que é bom.

O concerto começou com a entrada da banda, sem vocalista, que tocou durante cerca de 10 minutos, para "aquecer" a audiência para a chegada da artista. O som lembra os tempos idos das décadas de 60 e 70 no século passado... Soul, funk, o que lhe queiram chamar, transpira ritmo. E pronto, nós lá fomos abanando o corpo, entrando no espírito da coisa. Mas nada fazia prever que a entrada de Sharon em palco traria consigo um verdadeiro furacão. Que energia tem esta senhora, de cinquenta e tal anos, a fazer inveja a muito boa gente! E que vozeirão! A partir desse momento, foi sempre a dançar. E nem o facto de não conhecer quase nada do seu repertório foi impeditivo para um concerto fantástico.
Adorei, adorei, adorei. Tanto, que a seguir fomos comprar CDs da banda, que estavam à venda na saída do concerto. Assim, já não há desculpa para não conhecer as músicas. E ganham-se bons momentos de descontracção. Que mais se pode pedir, com toda esta energia?...