Angèle et Tony



E não é que com este filme francês, primeira obra da realizadora Alix Delaporte, cheguei ao post número 100 de cinema deste blog?... Um acontecimento a assinalar.

"Angèle et Tony" conta a história de, como não poderia deixar de ser, Angèle e Tony - ela recém chegada a uma pequena vila piscatória da Normandia, ele pescador profissional nessa mesma vila. Como se dá o encontro, nunca chegámos verdadeiramente a perceber. Ela, de uma beleza bruta, imediatamente o atrai, mas muito caminho terá que ser percorrido para que estas duas personagens se entendam. Ela tem um passado que ele desconhece, e que só a conta-gotas é revelado. No entanto, ele não está preocupado com isso, e apenas quer que ela não mascare as suas fragilidades através de comportamentos desinibidos... Será que têm futuro? Talvez, mas realmente, tal como li numa crítica ainda antes de ver o filme, não é propriamente isso que importa. Ao espectador, interessa a forma como a realizadora conta esta história, a forma como a filma, e como os actores a vivem. Porque a história é corriqueira, nada tem de extraordinário.

No entanto, há um entendimento entre Clotilde Hesme (Angèle) e Grégory Gadebois (Tony), um par improvável, aliás, que torna este filme bonito e tocante. Também ajuda o facto de a realizadora optar por dizer menos e deixar ao espectador esse trabalho de adivinhar, ler nas entrelinhas... Ajuda a dar mais riqueza ao argumento.

Por último, gostei também das paisagens e do ambiente em que as personagens se inserem. O norte de França é lindo, e aqueles cenários áridos da Normandia trazem-me saudades...

Um belo número 100, sem dúvida.

La nausée - Jean-Paul Sartre



Para não variar, ando atrasada na escrita deste blog. A culpa deve ser deste Agosto lento, que parece que já começou há uns 3 meses... E ainda nem 3 semanas passaram... Mas vamos ao que interessa.
Lenta foi, também, a primeira leitura que fiz de Sartre, o francês "maldito" que em 1964 recusou o Nobel da Literatura... pormenores. Ia dizendo que este "La nausée", primeiro romance de Sartre datado de 1938, foi a minha primeira incursão à obra deste autor que tanto marcou o pensamento do século XX. Demorou até arranjar coragem suficiente para embarcar nesta leitura, se pensar que este livro me foi oferecido há 6 anos... Sartre na sua língua materna não é tarefa para abraçar de ânimo leve!!!
Agora que já fiz esta longa introdução, que posso eu dizer sobre o livro?... Pergunta difícil, pois então. Este "La nausée" é um livro sem história, em que o fio condutor é a narração feita por um individuo, escritor em crise, que descreve os seus dias e o que o rodeia de forma desapaixonada. No entanto, acho que posso dizer que identifiquei, ao longo do livro, a presença das sementes do existencialismo - a forma como o escritor observa e se relaciona com o que lhe é exterior, para mais tarde se dar conta que tudo isso "existe" (como, aliás, ele próprio verbaliza). Não deixa de ser interessante aperceber-me disso, de como essa questão foi sempre tão importante para Sartre.
Embora tenha sido um pouco difícil manter a motivação ao longo da leitura, tal não aconteceu por o livro não ser suficientemente interessante, mas simplesmente por causa da sua cadência. Gostei, mas não sei se será experiência para repetir. Pelo menos, para já.