O Terceiro Passo completa-se


A caminhada iniciou-se há pouco mais de cinco anos, quando me mudei, de armas e bagagens, para Lisboa. Mais tarde, embarquei na aventura que agora culminou num dia de muitos nervos, mas também muita felicidade. Acaba então aqui a minha passagem profissional por Lisboa, da qual saio com  mais um canudo e com (muitos) cabelos brancos. Foram anos importantes, por vezes difíceis, mas que muito me ensinaram, sobre mim e sobre o mundo. Conheci muitas pessoas. Umas irão ficar para a vida, outras porventura se perderão na névoa da memória... Mas todas ficarão comigo, como parte integrante desta que foi uma etapa muito importante da minha vida. 

O fim de etapas é uma coisa interessante. Há o sentimento do "dever" cumprido, do atingir de uma meta. Mas há, ao mesmo tempo, também um vazio, uma noção de que nós paramos, enquanto o resto do mundo continua a girar. Sentimentos transitórios, com certeza... Porque a seguir a uma etapa, temos outra, e com ela novos desafios a enfrentar.

Por isso, quero, acima de tudo e neste momento, agradecer a todos os que fizeram parte da minha vida durante estes cinco anos, que contribuíram para que tenham sido cinco anos muito ricos. Muito obrigada.

E "O Terceiro Passo"? Que lhe acontece?... Embora a designação perca a validade, uma vez que a ilusão se completou, este blog faz parte de mim e da minha vida. Decidi, por isso, mantê-lo tal como está, até segundas núpcias. A ver vamos o que trará o "quarto passo"...


O futuro segue dentro de momentos.

Vodafone Mexefest @ Lisboa

É verdade que já lá vai algum tempo desde que "a música mexeu" na cidade de Lisboa. No seguimento daquela que foi uma intensiva época de concertos, a ida à versão lisboeta do Vodafone Mexefest (depois de, em Março, ter ido à versão portuense) foi o fim desse ciclo, e um fim muito feliz. O formato deste festival de música agrada-me. Claro que quando se quer muito ver um determinado concerto, particularmente se for concorrido, pode ficar-se um pouco frustrado... Mas o melhor de um festival com este formato é precisamente percorrer as diversas salas (algumas das quais nem sequer costumam receber este género de eventos) e deixar-se surpreender pelo que aí estiver a acontecer no momento. 
Foi com esta ideia em mente que rumei até à Avenida da Liberdade e zonas adjacentes. Claro que, em relação ao concerto dos britânicos Alt-J, o sentimento era diferente - não queria por nada perder a oportunidade de ver este quarteto ao vivo, que foi uma das melhores descobertas musicais deste ano de 2012. E não perdi. Antes houve tempo para assistir a cerca de metade do concerto de Samuel Úria, personagem que muito aprecio, e ouvir as músicas que em breve estarão por aí, no segundo álbum do cantor de Tondela. Depois, nem sequer houve um levantar da cadeira, não fosse alguém roubar o lugar!!! O concerto de Alt-J seguiu-se, com o público ao rubro. Passaram por todo o álbum de estreia, Awesome Wave, e ainda por algumas versões (por mim identificadas como "These Days", de Nico, e "Slow", de Kylie Minogue; mas posso sempre estar enganada!). Gostei muito do concerto, mas sinto que, de alguma forma, não estava no meu ambiente ou no melhor dos humores para poder usufruir plenamente do concerto. Após este concerto, ainda houve tempo para espreitar Gala Drop no Maxime, o que valeu bastante a pena, até porque é um espaço do qual gosto. Fim do dia 1, amanhã há mais.
Segundo dia de concertos, desta vez sem um objectivo principal, embora tivesse gostado de espreitar os Django Django, o que não aconteceu devido à lotação mais do que esgotada do espaço! Ainda assim, deu para conhecer a Casa do Alentejo, onde tocava The Nicotine's Orchestra (liderados por Nick Nicotine, personagem interessante do Barreiro), com um som do qual muito gostei. Depois, subir um pouco a rua, até ao Ateneu, para ver Petite Noir, esse sim o grande momento da noite (e, muito provavelmente, do festival). Este rapaz de 21 anos faz uma música de alguém que tem muito para dizer. E eu estou cá para ouvir... Denso, algo negro (ou não fosse fazer jus ao nome), vibrante. Tem futuro, com certeza. Erro nosso, resolvemos deixar este a meio e ir tentar a nosso sorte com Django Django, o que não aconteceu. Assim, vimos as últimos músicas de Noiserv no São Jorge e depois aproveitámos para ficar mesmo por lá. Primeiro, num concerto de uma banda holandesa meia folk meia qualquer coisa desinteressante, depois no concerto de Efterklang, que não sendo uma banda da qual goste particularmente, fez um espectáculo de se lhe tirar o chapéu!!! Verdadeiros entertainers, sabem como manter o público entusiasmado e a vibrar. Assim terminou o Mexefest da cidade de Lisboa, com um saldo muito positivo. Foi uma boa despedida. E obrigada aos primos queridos que ofereceram o bilhete e uma óptima companhia.

O frio da Primavera (ou como um festival de música invadiu o berço da nação)

Aberta que estava a temporada de concertos, foi tempo de rumar a Norte (sempre um bom sentido de orientação) e visitar a cidade que este ano recebe a Capital Europeia da Cultura (e à qual ainda não tinha prestado uma visita neste tão ilustre ano). Este evento Optimus Primavera deixou os grande círculos urbanos e veio até Guimarães, o que atraiu muitos melómanos num fim-de-semana de muito frio. Eu incluída. Ir de Lisboa a Guimarães é um caminho longo (não chega às 9h de viagem da outra música, mas não anda lá muito longe), pelo que os primeiros concertos de sexta-feira ficaram para segundas núpcias. O que não poderia mesmo perder era o regresso a Portugal de Sharon Van Etten, cantautora americana que me deslumbrou nos últimos meses. Regresso ao Centro Cultural Vila Flor (CCVF) (já lá vão uns anos desde que aí vi Susheela Raman), numa atmosfera intimista a (re)lembrar-me porque é que gosto tanto de ir a concertos... Tocou praticamente todas as músicas do seu mais recente álbum, Tramp, com excepção de Give Out, a minha favorita... Tristezas à parte, rumou-se até ao Centro de Artes e Espectáculos São Mamede (antigo cinema, segundo fiquei a saber) para continuar a onda dos concertos. Chegámos a meio do concerto de Destroyer (não conheço, ou se conheço não me lembro), que depois deu lugar a Ariel Pink, que deu um concerto algo alucinado mas muito bom. E assim acabou a rodada de sexta-feira. Sábado trouxe uma maior disponibilidade para assistir aos concertos, que chocou na capacidade limitada do pequeno auditório do CCVF... E o que culminou com na prática apenas ter assistido ao concerto dos Tinariwen. Mas que valeu por todo um dia de concertos!!! Assistir a um concerto deste grupo de tuaregues do Mali era um objectivo gorado há já uns bons anos, e finalmente consegui. Embora sem a presença do seu membro mais carismático, Ibrahim Ag Alhabib, o grupo deu um espectáculo caloroso, alegre e lânguido. Gostei muito, só não gostei mais porque mais uma vez saí do concerto sem ouvir uma das minhas músicas favoritas, Aldechen Manin... Não se pode ter tudo, não é?

O balanço foi muito positivo. Adorei ir a Guimarães, que é uma cidade que me encanta e onde já não ia há muito tempo. E onde fui muito bem recebida. Até gostei do frio! Que saudades me fazem as terras frias lá de cima...