Uma tarde bem passada


Hoje passei uma tarde diferente. Há já algum tempo que tinha curiosidade em aprender a técnica de pintura em tecido com stencils - pelo menos desde que a minha mãe começou a fazer obras tão bonitas com essa técnica. Hoje foi o dia em que me juntei a ela e a outras senhoras da Universidade Sénior de Cinfães para me iniciar nessas lides. O resultado foi este pano da louça, decorado com motivos algo pascais... Fiquei contente com o resultado e, principalmente, por ter aprendido algo novo. Fossem todos os dias assim.

Hitchcock

Se por um lado, se quebrou o enguiço da leitura, por outro lado temos enguiço para ver o tão aclamado "Amor", filme de Michael Haneke. Depois de muitas combinações e descombinações, lá rumámos ao El Corte Inglés para ver o filme quando, para nossa surpresa, não havia exibição à hora desejada naquele dia... No calor do momento e na posição de ter que escolher um filme substituto, a escolha recaiu neste Hitchcock, filme que retrata os métodos pouco convencionais do realizador por altura das filmagens de Psico.
Apesar das críticas que tinha lido até então não serem propriamente positivas, resolvi arriscar. Até porque a curiosidade em ver o filme existia de facto. Mas, para mal dos meus pecados, as críticas tinham razão. O filme é pobrezinho - Anthony Hopkins está estranhíssimo no papel de Hitchcock (parece que só se vê o silicone e a maquilhagem do "disfarce"), a história está demasiada simplificada (acharam que o espectador não teria capacidade para mais...) e tudo se desenrola à superfície, sem nunca ousar ir mais além. Hitchcock é retratado como um excêntrico, viciado em comida e bebida, voyeur e control freak - se corresponde ou não à realidade, não sei. O melhor do filme é, provavelmente, a interpretação de Helen Mirren, no papel de Alma Reville, esposa de Hitchcock. Aí sim, vê-se um pouco de profundidade, de sentimento... Tirando isso, é "produto acabado, da sociedade de consumo imediato. Mastiga. Deita fora. Sem demora."

The Bat - Jo Nesbo

O enguiço parece ter sido quebrado. Ou, pelo menos, temporariamente. Porque logo a seguir a acabar de ler Queer, foi me oferecido este The Bat, primeiríssimo volume da saga de Jo Nesbo que tem como protagonista Harry Hole, o que reavivou em mim o desejo de ler. Vai-se a ver e o que faltava era um bom thriller para me arrancar do marasmo!
Ora então, depois de ter lido quatro livros (acho eu, mais coisa menos coisa...) desta "colecção" e de muito ter lido sobre como Harry Hole ajudou a capturar um assassino em série na Austrália, chegamos finalmente ao ponto de conhecer esse episódio e ler o início dos inícios. Sim, porque a tradução para inglês data de 2012, se não me engano, apesar do livro ser originalmente de 1997... Mas vamos ao que interessa - como é chegar, apenas agora, ao início da saga? Se calhar não faz muita diferença, visto que li todos os outros livros fora de ordem... Mas, por outro lado, talvez haja aqui algo mais. Depois de ter lido aqueles que são os capítulos mais recentes, é bom perceber de onde tudo vem - quais as informações primordiais que temos sobre Harry, onde é que tudo correu mal, "porque é que ele é como é", se assim quisermos pôr a questão. É uma boa premissa. Já o enredo propriamente dito, acho que é bastante mais inocente do que aquilo que posteriormente temos oportunidade de ler, no seguimento da sua obra. Há menos pormenores, há menos suspense. Acho que se nota que é a primeira obra, com todas as suas limitações, mas também com uma energia genuína.
Claro que gostei, e gostei particularmente de voltar a sentir apetite para "devorar" um livro. Jo Nesbo é um artista destas lides dos thrillers.

Django Libertado

Já li de tudo um pouco sobre o mais recente filme de Quentin Tarantino. Desde descrições que o põem num pedestal, qual oitava maravilha do mundo cinematográfico, a críticas acérrimas relativamente ao conteúdo racista e pouco dignificante da história da escravatura nos Estados Unidos. Tenho que confessar que me custa perceber tanto umas como outras opiniões...
Para mim, que não sou propriamente a maior seguidora de Tarantino, embora aprecie bastante o género, os filmes dele são uma desconstrução da violência - está sempre presente, mas é uma violência um pouco à desenho-animado, não é para levar muito a sério. 
Django, exercício com quase 3h de duração, conta a história de... Django, está claro, interpretado por Jamie Foxx (actor que não gosto), escravo libertado pelo Dr. King Schultz (interpretação fantástica de Christoph Waltz), um alemão nos EUA, para juntos partirem pelo Sul caçando prémios e procurarem a mulher de Django, Broomhilda, ainda escrava. Pelo caminho, temos muito pedaço de corpo arrancado a tiro, muita polpa de tomate espalhada pelo cenário - o que apenas me consegue arrancar umas verdadeiras gargalhadas. Pelo caminho iremos encontrar, igualmente, o esclavagista Calvin Candie, numa interpretação de Leonardo DiCaprio que não me encheu propriamente as medidas (não é que esteja mal, mas não acho que seja a melhor interpretação que ele já fez, como também já li por aí). Claro que não poderia faltar a cena de carnificina, tão amada por Tarantino, e que, neste caso, chega já quase no final do filme. Mas mesmo a tempo de nos extasiar com tanta tinta vermelha no ecrã!!! Ah, e o papel de Samuel L. Jackson é, no mínimo, inesperado.
Mas, então, qual é o veredicto?... Adorei. Apesar das 3h (e de ter momentos um pouco mais murchos), é um filme que nos prende do início ao fim, seja pela banda sonora fabulosa, seja pelo humor acutilante, a adrenalina é garantida. Desenganemos, Tarantino não é (na minha opinião, claro está) um intelectual e não faz exercícios de intelectualidade cinematográfica. Faz sim filmes controversos, amados por uns, odiados por outros, mas aos quais ninguém fica indiferente. Eu acho-lhe piada, é um provocador. Com muito bom gosto musical.

Seis Sessões

Uma ida familiar ao cinema trouxe consigo a visualização deste "Seis Sessões", filme baseado na história de vida de Mark O'Brien, a quem a poliomielite em criança ditou uma profunda atrofia muscular para o resto da sua vida. Assim, Mark é obrigado a viver parte dos seus dias dentro de um "pulmão de ferro", equipamento que permite aos seus pulmões imobilizados respirarem. Contra todas as expectativas (baseadas naquilo que acabei de escrever), Mark é um homem dinâmico e com um óptimo sentido de humor. Jornalista e poeta, é um homem que enfrenta as suas limitações. E é precisamente o enfrentar de uma destas limitações, a de um relacionamento sexual, que é abordado neste filme. 
Para qualquer pessoa que tenha visto o trailer, é fácil perceber do se está aqui a falar. Mark, sob aconselhamento do seu padre, resolve recorrer aos préstimos de uma terapeuta sexual de forma a poder lidar mais eficazmente com a sua sexualidade (Mark pode ter os músculos atrofiados, mas todas as suas capacidades sensoriais estão operacionais) e assim perder a virgindade, aos 38 anos. 
Uma história como esta está "condenada" a arrancar muitas gargalhadas aos espectadores, tanto pelo inusitado das situações, como pelo próprio bom humor com que Mark vai lidando com elas. Mas esta é, acima de tudo, uma história comovente. Alguém que vive prisioneiro do seu próprio corpo ser capaz de viver uma vida, apesar de tudo, normal, cheia de afectos... é inspirador, no mínimo. Faz-nos pensar em tudo aquilo que vemos como problemas no nosso dia-a-dia e que se tornam limitações sérias à forma como vivemos as nossas vidas. A grande maioria de nós talvez não viva prisioneira do seu corpo, mas muitos vivem, sem sombra de dúvida, presos à sua mente.
Pelo menos,é essa a mensagem com que fico.

Gostei também das interpretações. Deve ser especialmente difícil fazer um filme em que se está o tempo todo deitado, a falar de lado, e por isso acho que John Hawkes está particularmente bem - credível, frágil mas forte. Helen Hunt, no papel de terapeuta sexual, está um pouco estranha, fisicamente falando - inteiraça, é verdade, mas a contrastar com todas as rugas do rosto... O padre de William H. Macy é muito divertido, num papel algo diferente do que estou habituada a vê-lo fazer. E todos os outros secundários também estão bastante bem.

Conclusão final: gostei do filme, é muito interessante, dentro do estilo. Despretensioso, acima de tudo.