E as visitas continuam


Já diz o ditado que "não há fome que não dê em fartura". O que me parece de alguma forma apropriado para descrever o facto de ter a segunda visita em Berlim apenas dois dias depois de dizer adeus às primeiras visitas. Muito bom.
Desta vez, dei as boas-vindas à M., amiga de longa data. O tempo não esteve propriamente de feição, pelo que foi necessário encontrar estratégias alternativas de "aproveitar" Berlim. O que não foi, de todo, negativo! Foi uma visita diferente - saímos muito, dançamos, divertimo-nos. Provavelmente, como já não acontecia há muito tempo. Ficam para a história noites muito bem passadas. E uma visitante satisfeita. Pelo menos, assim o espero. E cá te esperarei para futuras visitas, miúda.

As primeiras visitas em Berlim


Maio será sempre um mês especial. Quanto mais não seja porque é o mês em que a minha mana faz anos. E, neste ano em que estou longe, ela veio passar o seu aniversário comigo. A minha primeira visita em Berlim. Claro que, com ela, veio o resto da família. O que proporcionou fortes emoções, nomeadamente no reencontro da minha princesa pequenina, e me fez sentir de regresso a casa (ou não tivessem sido eles a minha casa nos últimos cinco anos...).

Foi bom ter a casa cheia, de pessoas e de vida. Foi bom redescobrir uma Berlim mais turística, que ainda não tinha visitado nestes quase 3 meses, mas também conhecer novos lugares. Foi bom poder partilhar com eles aquela que é a minha vida neste momento. E foi principalmente bom poder sentir de novo o carinho que só aqueles que nos amam nos conseguem transmitir... Acho que estava com saudades.

Pequenas coisas da vida


E, ao penúltimo dia do mês de Maio, vejo um postal preso na ranhura da porta ao chegar a casa. São coisas "pequeninas" como estas que fazem os dias valer a pena.

This is not a film

Como já perceberam, as idas ao cinema não têm sido particularmente profícuas aqui em Berlim (a barreira linguística é realmente um problema). Mas descobri (não por mim própria, mas através de uma dica) que existe uma Berlin Film Society que organiza umas sessões temáticas, tendo sempre a preocupação daqueles que não falam a língua alemã. Boa. Para Maio, organizaram as "quintas-feiras dos documentários". Não consegui ir à primeira, mas a segunda não me escapou (apesar da preguiça...), talvez por ser um documentário que há muito me interessava ver: This is not a film, de Jafar Panahi, realizador iraniano que se encontra, desde 2010, numa espécie de prisão domiciliária, tendo sido acusado de propaganda pelo governo iraniano e, consequentemente, condenado a 6 anos de prisão e a uma interdição de 20 anos de fazer filmes, escrever argumentos, dar entrevistas ou qualquer outro actividade relacionada. Foi na sequência desta sentença que Panahi fez este documentário (a ironia do título "Isto não é um filme", porque Panahi se encontra proibido de fazer filmes), cujo objectivo primordial era, aparentemente, contar a história do filme mais recente que o realizador queria fazer. Mas acaba por funcionar como um testemunho, um diário de um homem a quem foi retirada a sua vida. Porque a vida de Jafar Panahi é contar histórias através de filmes.
É chocante sem ser agressivo - está tudo lá, nas entrelinhas. Custa-me ver que alguém com tanto para dizer é impedido de o fazer, enquanto por esse mundo fora tanta gente tem a liberdade de apenas dizer porcaria. É um mundo triste, este. Mas que continuem a sair cá para fora, dentro de bolos ou através de outras estratégias afins, as obras deste senhor, para que possamos continuar a ouvir a sua voz.

1º de Maio



Diz que o 1º de Maio é o Dia do Trabalhador, um pouco por todo o mundo. Mas diz também que o 1º de Maio é um dia especial em Berlim, especialmente na área de Kreuzberg, com um historial de manifestações e confrontos com a polícia. Porquê, não sabia até hoje ter ido ler um pouco sobre o assunto - sendo que o 1º de Maio é, tradicionalmente, um dia de festa e celebração, no ano de 1987 manifestantes de grupos anti-fascistas e de extrema-esquerda envolveram-se em graves confrontos com a polícia, que teve que se retirar por completo da área de Kreuzberg. Desde então (e já passaram 26 anos), o dia é normalmente marcado por alguns desacatos... mas nos últimos anos a situação tem acalmado e, na passada quarta-feira, em que também eu rumei a esse pedaço de Berlim, o ambiente era unicamente de festa. Milhares de pessoas nas ruas, música, comida, bebida. Muita animação. Nada que fizesse propriamente lembrar que estamos num país tão amplamente associado à austeridade... emocional. Porque Berlim é, definitivamente, uma cidade diferente.

E os hipopótamos cozeram nos seus tanques - William S. Burroughs & Jack Kerouac

Último livro que comprei antes de vir para Berlim. E sim, é verdade, regressámos aos Beat. Se calhar, até tenho algum tipo de fascínio por estes escritores...
Este livro tem um contexto importante e interessante, que eu desconhecia até o ler. Antes do desabrochar, propriamente, da Geração Beat, da qual Kerouac, Burroughs e Allen Ginsberg representam os nomes maiores, houve um acontecimento trágico que marcou, provavelmente, o desenrolar da história (minúscula ou maiúscula?...) - a morte de David Kammerer às mãos do jovem Lucien Carr, eles que protagonizavam uma relação excessiva, bem ao jeito dos Beat. E é precisamente a este acontecimento que Kerouac e Burroughs vão buscar a sua inspiração para escrever "E os hipopótamos cozeram nos seus tanques" a duas mãos, livro este que ficou perdido para publicação durante mais de 60 anos e que chegou, neste ano de 2013, a Portugal.
A escrita a duas mãos é bastante interessante porque nos vai dando duas visões distintas dos mesmos acontecimentos. Claro que o livro é, de determinada forma, autobiográfico, porque cada um dos autores conta a história consoante a viu e viveu. Mas claro que também há muito de ficcional nesta escrita. O leitor fica, assim, como que no meio da ponte, entre realidade e ficção. 
Foi uma leitura da qual gostei. Faz um retrato da vida em Nova Iorque nos anos 1940, Segunda Guerra Mundial, excessos atrás de excessos... E de como este ambiente influenciou uma geração de escritores e artistas.