Beautiful Ruins - Jess Walter

É bom regressar às leituras ávidas. Por um (longo) momento, pensei ter perdido essa capacidade. Aparentemente, não. Tenha sido o livro, a minha disposição/disponibilidade, ou a inspiração de uma cidade - Berlim. Ou talvez uma mistura de tudo isso. Certo é que foi uma semana de muita leitura, em comboios, aviões, camas e sofás. Qualquer sítio é um bom sítio. Mas deixemo-nos de coisas e vamos à história.
Beautiful Ruins é um romance sobre a indústria cinematográfica e os seus meandros. Mas também é, e talvez mais relevante, um livro sobre ambições e expectativas, sobre como se constrói uma persona e se vive através dela. No passado como hoje em dia, nomeadamente através de alter-egos criados nas redes sociais (esta última parte é um pouco extrapolada, não há qualquer referência directa). Continuando. A história de Beautiful Ruins toma parte em diversos períodos de tempo, entre o ano de 1962 e os nossos dias, seguindo personagens cujas vidas se interligam durante esses diferentes períodos, estando sempre, de uma forma ou outra, ligadas ao cinema.
Em 1962 temos uma jovem actriz americana a chegar a uma terriola recôndita do litoral italiano e a pôr tudo em reboliço. Nos dias de hoje temos um produtor decadente, a sua assistente em crise existencial e um jovem escritor que começa a perceber que é uma fraude. E sim, está tudo interligado e a acção vai saltando de sítio em sítio, de tempo em tempo - talvez com isso conseguindo manter aguçado o interesse do leitor.
Gostei muito, como dará para perceber pela rapidez da leitura. Mas não foi só pelo interesse da história ou pela forma como é contada. Foi também por haver uma mensagem de redenção, de reflexão emocional, nomeadamente sobre o que nos é importante e sobre a forma como "ambicionamos" viver as nossas vidas.
Há uma frase de que gostei particularmente: "This is what happens when you live in dreams, he thought: you dream this and you dream that and you sleep right through your life."
Deve ser por causa disso que tenho insónias.

A love supreme

Terceiro e último concerto do festival Meltdown. Domingo solarengo e quente em Londres, o que significa ruas cheias de gente e roupas mais reduzidas. Principalmente à beira-rio.

Sendo uma apreciadora de John Coltrane e do seu saxofone, fiquei particularmente interessada neste concerto, no qual seria recriado na íntegra o seu álbum de 1965, A love supreme. Fiquei um pouco menos feliz quando percebi que antes disso haveria uma primeira parte com os mesmo músicos em interpretação de géneros jazzísticos variados... A parte principal do concerto começou já tarde, mas de forma realmente interessante - como se o jazz se fundisse com world music para dar lugar a peças musicais de extrema riqueza. E assim seguiram as diferentes partes do álbum, umas vezes mais "tradicional", outras com sonoridades mais experimentais. Agora o que me tirou um bocadinho do sério foi a parte final do concerto - que nesta altura já durava há mais de duas horas - e que teve a ver com a longa duração de um poema que é ciclicamente recitado. "Elation. Elegance. Exaltation. All from God. Thank you God. Amen." Tudo bem, porque este é definitivamente um álbum espiritual. Mas estar mais de cinco minutos a repetir a mesma coisa ou é hipnotizante ou é entediante. Comigo foi mais a segunda opção. E acabei por sair da sala irritada porque já era tarde e estava a ficar atrasada para ver o jogo de Portugal no Mundial... Eu sei que devia ser mais "sofisticada", mas a verdade é mesmo assim. Continuo a gostar muito de ti, John.

Phantom - Jo Nesbo

Mais um livro de Jo Nesbo. Quase a completar a colecção, só me falta mesmo o livro mais recente, Police. Mas esse ainda só saiu em capa dura, por isso ainda não tenho. Não gosto muito desse formato, para além de ser mais caro. 
Já comentei que é algo evidente a evolução na escrita de Nesbo ao longo da saga Harry Hole. Não querendo com isso dizer que ele escreve melhor agora, mas a capacidade de criar um enredo e manter o suspense até ao fim foi melhorando de livro para livro. E este Phantom é realmente muito bom nisso. A história, que segue o regresso de Harry de Hong Kong a Oslo, envolve as redes de tráfico de droga da cidade e o assassínio de Gusto Hanssen, um toxicodependente/traficante. É um livro longo, a história intricada, com muitos pormenores. Eu, que aparentemente sou uma pessoa fácil de surpreender, fiquei um pouco espantada com o final. Até porque é um "to be continued", o que me deixa muito curiosa para ler o próximo livro. Mal posso esperar.

Junho é o mês da minha princesa



Parabéns.

(créditos à minha mãe que tirou esta fotografia tão especial)

O bocejo pretensioso

Também inserido no festival Meltdown, com escolhas musicais de James Lavelle, houve o concerto de Keaton Henson na passada segunda-feira. Nunca tinha ouvido falar do rapaz até há uns meses atrás, quando o nome apareceu no alinhamento do dito festival. A descrição de "singer-songwriter"  foi suficiente para atrair a minha atenção e resolvi arriscar e comprar um bilhete.
Não se pode sempre acertar. O rapaz não é mau, e talvez tenha sofrido da minha pouca paciência depois de assistir ao jogo Alemanha-Portugal. Mas há uma onda de pretensiosismo artístico que dura há já alguns anos (e está para durar, provavelmente) que me tira um pouco do sério, tenho que confessar. A pseudo-timidez, as costas viradas para o público enquanto toca piano, o falsetto usado e abusado... A voz de quem se esforça por não se afirmar, apostado numa aura de fragilidade. Não gosto, não tenho paciência. Falta alma e autenticidade. Até a barba exageradamente longa parece encaixar no esteticamente alternativo que está na moda.
Enfim. Não quero ser má. Há uma música ou outra que até são interessantes. Mas, no geral, não me convence.

O regresso da escuridão (ou Petite Noir ao vivo na margem sul)


Estou prestes a estabelecer uma tradição: a de ir a concertos quando a prima Carol me visita. Há um ano atrás foi Bonobo em Berlim, desta vez tivemos Petite Noir em Londres. Cidades diferentes, estilos diferentes. E desta vez tenho que dar a mão à palmatória e admitir que nem tudo era melhor em Berlim, porque se tiver que comparar estes dois concertos, tenho que dizer que gostei mais de Petite Noir. Não tem nada a ver com a cidade, é apenas um estilo musical que me agrada mais.
O concerto, inserido no festival Meltdown, foi curto. Como têm sido todos. E embora o rapaz sul-africano continue a não ter um álbum gravado, a situação só parece ajudar à aura que o acompanha - o quão cool se pode ser aos 23 anos (ou qualquer que seja a idade extremamente reduzida que o rapaz tem)?...
A música é densa, muito densa. A voz quase perfeita, a alternar entre graves e agudos sem vergonha. Não sei o que dizer. Mantenho a opinião que ficou quando o vi ao vivo, há quase dois anos, no Mexefest em Lisboa - este rapaz tem tudo para fazer sucesso. Até para criar um certo culto à sua volta. Mas bem que já gravava um álbum. Gostava de o poder ouvir mais amiúde.

Mais teatro

No início do mês regressei ao teatro. Na segunda peça do grupo de quatro Japes, das quais acabei por assistir a apenas duas... vergonha a minha.
Como vos expliquei no último post sobre esta peça, a ideia foi fazer várias versões da mesma história, seja com visões das diferentes personagens, seja com finais alternativos. Nesta parte da peça, tivemos direito a um dos finais alternativos, em que o irmão coitadinho consegue afinal singrar na vida e tornar-se uma pessoa de sucesso.
É uma produção muito interessante, intimista (mesmo na sala principal), faz o público sentir-se parte da história complicada daqueles dois irmãos. Gostei, definitivamente. Embora ainda não me tenha rendido ao teatro. Um dia destes, quem sabe.