Mulatu Astatke ao vivo, ou o concerto do pai do etiojazz

E também há cerca de um mês atrás, fui ver um concerto de Mulatu Astatke, nome maior do jazz proveniente de África, mais precisamente da Etiópia.
Há já alguns anos que me foi dada a conhecer a sua música, e desde o início que fiquei fascinada pela sonoridade, pelos ritmos.  Por isso, quando soube que o septuagenário senhor vinha tocar a Londres, fiquei com a pulga atrás da orelha. Sorte a minha que, mesmo tendo adiado a decisão de comprar bilhete, o concerto não esgotou (pelo menos até ter comprado). E foi muito bom ter ido.
Primeiro houve uma primeira parte com um grupo creio que também etíope, do qual não me lembro o nome. Muito ritmo, dançarinos, engraçado mas um pouco estranho - pelo menos, para a ideia de jazz sóbrio que eu fazia do senhor. Depois veio a big band, que não era assim tão grande em tamanho, mas definitivamente grande em sonoridade. E o senhor Astatke, lá no meio, pequeno mas grande, de volta das suas percussões. Gostei tanto. O jazz, como a música clássica, tem a capacidade de me transportar para outras realidades. A minha mente viaja de tal forma que por vezes esqueço-me de onde estou e o que estou a fazer! É uma sensação muito boa, terapêutica. Tenho, no entanto, que dizer que houve partes em que senti falta de uma "orquestra" mais composta, houve alturas em que faltou densidade à música. Mas, ainda assim, foi um concerto muito bom.

Bring Up the Bodies (e não foram poucos)

"Há muito, muito tempo / Era eu uma criança"... Não (mas também). Há cerca de um mês atrás, fui ver esta peça de teatro, cortesia da entidade para a qual trabalho - de vez em quando oferecem-nos bilhetes para espectáculos. É o que dá sermos uma instituição de caridade.
Borlas à parte, a peça é sobre Ana Bolena e o rei Henrique VIII. Uma história sobre a qual já todos ouvimos falar um pouco, não tivesse a senhora sido executada... E ainda bem que já tinha ouvido falar sobre a história, e visto o filme Duas Irmãs, um Rei, senão seria um bocadinho difícil de acompanhar a peça. Isto da pronúncia britânica tem um bocadinho o que se lhe diga... Mas foi bastante interessante e claro que as produções teatrais por cá são (quase) sempre extremamente profissionais e meticulosas, o que faz com que ir ao teatro seja um prazer.

Bis


Há pouco mais de um ano, tornava-me uma bi-tia. Tenho agora uma tulipa e um junquilho para alegrar os meus dias. Obrigada, minha irmã, por me dares tão belos sobrinhos.

Finding Fela

É verdade, ando com pouquíssima vontade de escrever. Vou acumulando posts, esquecendo alguns com certeza... mas a vontade não vem. Hoje faço um esforço, porque começo a achar difícil quebrar este ciclo vicioso. E, assim, vou contar-vos sobre um documentário que vi há cerca de um mês atrás, com o qual aprendi muito e do qual gostei bastante.
Fela Kuti foi um música nigeriano. Já tinha ouvido falar nele, principalmente desde os tempos em que vivi em França. Conhecia alguma coisa, também do filho Femi, que seguiu igualmente a carreira musical. Mas não fazia ideia do impacto que Fela tinha tido no cenário musical, não só africano, mas mundial, principalmente na década de 1970. Este documentário, Finding Fela, desconstrói a vida desse ícone musical, as suas origens, as suas motivações. Mostra-nos uma vida de excessos a todos os níveis, uma vida de quase desinteresse pela família, uma vida (acima de tudo) difícil de compreender. Fela Kuti foi um músico, pioneiro do Afrobeat, mas foi também um activista político, defensor da identidade africana, uma voz muito forte numa altura particularmente conturbada da história nigeriana. A sua "promiscuidade" sexual era conhecida, tendo casado com mais de 20 mulheres no mesmo dia. Algo ironicamente, morreu vítima de SIDA aos 58 anos.
Por esta pequena amostra, podem perceber como este documentário é interessante. Como se aprende tanto não só sobre o homem, mas também sobre a época em que viveu, sobre os contextos em que se inseriu. E a banda sonora... perfeitamente genial.