Crónica da semana (a terceira), ou as manhas do amuo

À terceira já começa a atrasar. É muito bom ter fins-de-semana repletos de actividades e socialização, mas depois a escrita fica para trás e não há tempo nem disponibilidade emocional para me dedicar a ela um bocadinho. Espero que não se torne um hábito (a falta de tempo).

Chegam-me aos ouvidos (ou, neste caso, aos olhos) palavras de regozijo perante a minha recém-adquirida maturidade e atitude perante a vida. Agradeço o incentivo, é algo para a qual muito me tenho esforçado, tenho que admitir que não é algo que venha assim naturalmente. De vez em quando, mais comummente do que gostaria, os amuos tomam conta do humor e parece não haver nada a fazer. Nessas alturas respiro fundo, conto até quinhentos (pelo menos), tento focar-me noutros assuntos que não aqueles que me consomem o espírito. Difícil... Tem sido um pouco assim na última semana, com altos e baixos e situações problemáticas, na minha cabeça e à volta dela também. Se, por um lado, sempre gostei de estar na posição de confidente, também é verdade que por vezes é uma posição um bocadinho ingrata, principalmente quando é difícil ajudar os que temos pela frente. Relembra a frustração de tantas situações sobre as quais não tenho qualquer controlo.
Felizmente, os momentos são isso mesmo, fugidios. E os amuos vêm e não ficam, algo que me deixa feliz. Neste último fim-de-semana fui a Berlim, matar saudades dos amigos e da cidade. A cada vez que lá vou, repete-se o sentimento. Sinto que estou em casa. Também esse sentimento é fugidio, bem sei. Como sei que, se por lá continuasse, com certeza que muito me queixaria dos típicos problemas de primeiro mundo, como a omnipresente gentrificação das cidades. Na realidade, não vivo lá, e como tal mantém-se o sentimento de enamoramento. Deixem-me assim, sorriam com benevolência. Todos nós temos os nossos quês, nem sempre fáceis de explicar por palavras.
Para além de juízo, parece que também consegui reganhar um pouco, ainda que momentaneamente (porquê esta obsessão com o momento?...), o meu gosto pela leitura. Li mais um livro, em cerca de duas semanas! The Wasp Factory, de Iain Banks, livro perturbado mais do que perturbador, muito interessante e cativante de uma forma fora do comum. Para os que não sejam demasiado sensíveis, aconselho vivamente a leitura. Espero que haja edição em português mas, para ser sincera, não sei.

Assim acontece por Londres. Montanhas-russas de emoções, irritações e outras demais palavras terminadas em -ões. Nada de malícia. Os amuos vão e vêm e eu cá me vou aguentando. Atrasando-me na escrita, que não gosto. Mas aproveitando pequenos momentos, como este fim de dia quente (diz que estão 30ºC lá fora, daqui a nada já confirmo), para vos deixar umas palavras. Espero que vos encontrem bem.

Crónica da semana (a segunda), ou a "magia" dos 34


Eu bem disse que quando voltasse a escrever neste blogue já o faria do alto dos meus 34 anos. E assim acontece (como diria o Carlos Pinto Coelho, nos idos tempos felizes da RTP2...). 
Quem me conhece um bocadinho sabe que dou importância a estas coisas dos aniversários. Sou uma pessoa de pormenores, de pequenas coisas, não de grandes festas ou manifestações. O que, na maioria das ocasiões, só torna as coisas um pouco mais complicadas. Mas os 34 lá chegaram, iluminados pelo sol inglês (que de vez em quando decide dar um ar da sua graça), mais calmos do que é costume nestes dias (será a maturidade a atingir-me?...). Houve direito a passeio em fim-de-semana de aniversário, para explorar a costa inglesa e uma região que há muitos anos povoava o meu imaginário: a Cornualha. Não saí decepcionada, não fosse dois acontecimentos (não relacionados) que marcaram o fim-de-semana de forma bastante distinta - primeiro, perder a minha máquina fotográfica no dia do meu aniversário; e segundo ter chovido continuamente durante o resto do tempo. O primeiro acontecimento marcou-me muito mais profundamente que o segundo, como seria de esperar, e quase estragou irremediavelmente o momento. Mas, a provar que estou uma miúda muito crescida e madura, lá consegui aceitar o provérbio que diz que o que não tem remédio, remediado está e perceber que estas coisas acontecem, mesmo que nos deixem tristes. Haverá mais máquinas fotográficas que, se tudo correr bem, não perderei. Mas, por uns momentos largos, tive que lidar com a frustração de algo que fugiu completamente ao meu controlo. Talvez tenha sido esse o ensinamento dos 34... agora que penso nisso com mais atenção, quase que parece um desígnio divino para me fazer libertar um bocadinho das minhas ansiedades e tentativas de controlar todos os pequeninos aspectos da minha vida. Acho que vou escolher essa interpretação e tentar abraçar esse ensinamento o mais profundamente possível.
Ensinamentos à parte, esta coisa dos aniversários traz sempre sentimentos mistos. Por um lado é um dia em que nos tornamos o centro das atenções, mas por vezes as atenções não vêm de onde desejamos. Porque é que fazemos isso? Porque é que nos agarramos ao que não temos em vez de ficar felizes por aquilo que nos é oferecido? Também tive um pouco desses momentos neste aniversário, mas bastante menos do que em anos anteriores. Houve muitas pessoas que não se lembraram, como seria de esperar, embora umas doam mais do que outras. Mas houve tanto carinho vindo de tantos lados! Postais que chegaram com quase uma semana de antecedência, encomendas, telefonemas de vozes distantes, mensagens e felicitações sem conta. Por isso, fica aqui um agradecimento oficial a amigos e família que, através da sua presença ou não, contribuíram para um dia feliz. E porque a vida não se faz só de aniversários, nem pouco mais ou menos, reitero igualmente a importância que têm para lá destes dias felizes.

E pronto, os 34 aconteceram e estão para ficar. Para já parecem-me bem.